quinta-feira, dezembro 25, 2008

REGRESSO

Regresso só para casa,

como no passado,

mas dessa vez livre,

para retornar

ou para ficar

até o final de tudo.

.

Não sinto o gosto amargo do fracasso

de uma noite imaginada.

Não lamento as tantas coisas

que desejava para mim.

.

Voltei só, um só livre,

de bar em bar,

sem indagações, sem compromissos,

com hoje ou amanhã.

.

O caminho para casa foi toda cidade,

das curvas da Dona Laura e da Vasco,

da Ipiranga completamente deserta

à Santo Antonio e à Farrapos,

da Beira-Rio em segunda marcha,

com o rio iluminado ao fundo;

da guria que pulava de alegria.

A cidade acordada

como há tempos não desfrutava

num dia desses.

ESCÂNDALO

"Mas doce irmã,
o que você quer mais
?
Eu já arranhei minha garganta toda
atrás de alguma paz
.

Agora nada
de machado e sândalo
.
Eu já estou sã
da loucura que havia em sermos nós
.

Também sou fã
da lua sobre o mar
.
Todas as coisas lindas dessa vida
eu sempre soube amar
.

Não quero quebrar
os bares como um vândalo
.
Você que traz o escândalo
irmã luz.


Eu marquei demais,
tô sabendo.

Aprontei de mais,
só vendo
.

Mas agora,
faz um frio, aqui!

Me responda,
tô sofrendo.

Rompe a manhã
da luz em fúria arder

Dou gargalhada, dou dentada na maçã da luxúria, pra quê?

Se ninguém tem dó,
ninguém entende nada

O grande escândalo sou eu, aqui, só.

Mamãe, eu já marquei demais,
tô sabendo
.
Aprontei demais,
só vendo.

Mas agora faz um frio, aqui!
Me responda,
tô sofrendo
.

Rompe a manhã
da luz em fúria arder
.
Dou gargalhada, dou dentada na maçã da luxúria, pra quê?

Se ninguém tem dó,
ninguém entende nada

O grande escândalo sou eu;
aqui só." (Caetano Veloso - Angela Rô Rô)

terça-feira, dezembro 23, 2008

Chuva de Verão

Nuvens escuras apontaram no horizonte,

primeiro no sul,

depois, em rápido movimento,

cercaram o sol, a casa

e, em minutos, tomaram conta do céu.

.

A natureza inteira se alvoroça.

O Ingá, os eucaliptos, o robusto pinheiro,

dançam ao sabor do vento,

a cada rajada expelem odores

e coreografam a paisagem.

.

Trovões e raios.

Pássaros agitados

cruzam o espaço,

as vezes em vôos razantes,

ouço cânticos e gorjeios,

soam como sinfonia;

até o galo brada forte,

denunciando a repentina mudança.

.

Por breves segundos,

tudo para.

Não há cheiros, vôos ou sons,

somente o ar pesado

e a certeza do que se aproxima.

.

Os primeiros pingos

deitam sobre a terra quente,

sinto o indescritível odor abafado,

quase posso vê-lo

a se desprender do chão.

Despenca água,

não se ouve mais nada

além da força da chuva.

.

Para onde foram os pássaros ?

E o vento para onde foi ?

As árvores já não dançam,

agora quedam inertes

sujeitando-se às vontades da chuva.

.

O universo está paralisado,

nada se movimenta,

a não ser a cachoeira d´água;

são minutos de monopólio total.

RECORDAR É VIVER II

Sempre digo: é bom demais ser Colorado! E nessa época de final de ano a coisa ganhar proporções ainda maiores. Dia 14 primeiro título de Campeão Brasileiro, dia 16/17 primeiro e único gaúcho a conquistar o título de Campeão Mundial FIFA e agora, hoje, primeiro e único CAMPEÃO NACIONAL INVICTO. Quem possui tamanhas honrarias ? Aqui na Aldeia, certamente, ninguém!

Como esquecer daquele 23 de dezembro de 1979 em que assisti pela televisão o desfile de Falcão contra o Vasco ? Ainda guri, com 6 anos de idade, saí para as ruas, empunhando minha bandeira do Internacional e vestindo a camisa rubra número 5, para comemorar meu primeiro título Nacional (em 1975/76 ainda estava no berço). E olha que eu nem tinha noção de que aquela façanha - de conquistar um Nacional de forma invicta - jamais seria igualada (já se vão quase duas décadas e ninguém consegue repetí-la).

Já sem Don Elias Figueroa, Manga, P.C. Carpegiani, C. Duarte, Vacaria, Caçapava, Flavio/Dario e Lula, o Internacional seguiu na política de montar uma equipe genuinamente gaudéria para seguir conquistando títulos de relevo. Ainda tínhamos Falcão, Valdomiro e o Príncipe Jajá, que era um guri em 75/76, e a eles acrescentamos Mauro Galvão, João Carlos, Mauro Pastor, Cláudio Mineiro e Bira. Foi montado, assim, um grupo que coletivamente se mostrou imbatível, dentro e fora do Gigante da Beira-Rio. Sob o comando do saudoso Ênio Andrade, Falcão teve uma temporada de gala - mostrando ao país o quão injusta foi sua não-convocação por Coutinho para a Copa da Argentina 78 - e a força coletiva era tamanha que o grande destaque no jogo de ida da final foi Chico Spina, autor dos dois gols que calaram o Maracanã, em substituição ao imprescindível Valdomiro.

A campanha foi fantástica, em 22 jogos foram 15 vitórias e 7 empates, com 40 gols pró e míseros 13 gols sofridos, incluindo vitórias sensacionais contra Goiás (oitavas de final), Cruzeiro (3x2, no Mineirão, pelas quartas de final). Nas semifinais vencemos o Palmeiras, (3x2 em SP - com atuação de gala de Falcão - e 1x1 no Gigante). Os paulistas tinham uma bela equipe capitaneada por Luís Pereira e que contava com nomes como Jorge Mendonça e Mococa, que também não resistiu à força do Colorado.

Depois de vencer o Palmeiras nas semifinais, com aquele gol inesquecível do Falcão num sem pulo de fora da área, o Colorado partiu para os confrontos decisivos com o Vasco da Gama de Leão, Roberto Dinamite e companhia. E venceu as duas partidas, de forma inapelável. No Maracanã foram 2x0, com atuação inspirada de Chico Spina (substituindo nada mais nada menos que Valdomiro, ídolo para sempre). No Beira-Rio lotado (foto ao lado) jogamos para carimbar a faixa e confirmar a inédita conquista invicta.

Até hoje ninguém repetiu a façanha!


Matéria do Globo Esporte depois da vitória de 2x0 sobre o Vasco no Maracanã
Youtube - Gols da campanha
Matéria da Gazeta Esportiva, com escalações das 2 partidas finais

domingo, dezembro 21, 2008

À Espera do Sol...

Quero ver o dia amanhecer novamente. Espero a madrugada passar, vou navegando por ela, procurando o que fazer em meio à escuridão. Ando por aqui e acolá, faço o que tinha de ser feito, deixo tudo pronto para quando a manhã trouxer luz. Tudo acontece como se fosse a primeira vez, como se a chegada do sol fosse uma grande novidade; expectativa e inquietação na madrugada.

sábado, dezembro 20, 2008

GAUCHADA

“Me alcé con tuito el apero,

freno rico y de concoja,

riendas nuevitas en hoja

y trensadas con esmero;

una carona de cuero

de vaca, mui bien curtida;

hasta una manta fornida

me truje de entre las carchas,

y aunque el chapiao no es pa marchas

lo chanté al pingo en seguida

Hice sudar al bolsillo

porque nunca fui tacaño;

traiba un gran poncho de paño

que me alcanzaba al tobillo

y a un machazo cojinillo

pa descansar mi osamenta;

quise pasar la tormenta

guarnecido de hambre y frío

sin dejar del pilcherío

ni una argolla ferrugienta.” (LUSSICH, Antonio – “Los Tres Gauchos Orientales”)

quarta-feira, dezembro 17, 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

domingo, dezembro 14, 2008

RECORDAR É VIVER!

Pois é. Foi em 14 de dezembro de 1975 que o Internacional conquistou o título mais importante da história do futebol gaúcho. O Campeonato Nacional daquele ano representou a abertura de portas do cenário nacional para nossos clubes. O Colorado já havia beliscado o caneco em 1972, 73 e 74. E a conquista não poderia ser mais gloriosa. Enfrentamos naquele 14 de dezembro o super time do Cruzeiro de Nelinho, Zé Carlos, Joãozinho, Piazza, Raul, Palinha e companhia. Era um super time, sem dúvida, mas que se curvou diante da Academia Rubra do Internacional. Manga, C Duarte (Valdir na final), Figueroa, M Perez (Heminio na final), Vacaria (Chico Fraga na final), Caçapava, PC Carpegiani, PR Falcão, Valdomiro, Flavio e Lula. Que timaço!

Don Elias tinha o lema "A área é minha casa, aqui só entra quem eu quero!". Don Elias não se limitou a cuidar da área Colorada. Na final resolveu invadir a área inimiga e marcar um gol que jamais sairá da mente da Nação Colorada. Aos 10 minutos e 40 segundos da segunta etapa, numa cobrança de falta de Valdomiro pelo flanco direito, enquanto o torcedor gritava sem parar "Colorado! Colorado! Colorado!", anotou o Gol Iluminado, marcado de cabeça, na única faixa ensolarada sobre o gramado do Beira-Rio naquela tarde.

Falcão maravilhou o país com suas atuações fantásticas durante todo o certame. Manga fez defesas cruciais, sendo a mais notória aquela, na final, com o dedo quebrado, em que espalmou um petardo de Nelinho, já com o placar marcando 1x0 a nosso favor. Carpegiani era um motor de criatividade e foi imprescindível, anotando o gol que garantiu a derrubada da máquina tricolor (time do Fluminense considerado imbatível pela imprensa do Eixo). Valdomiro e Lula formavam a maior dupla de ponteiros que o futebol mundial já viu em ação. E, finalmente, Flavio Bicudo era um matador em potencial. Marcou 16 gols no certame e sagrou-se artilheiro da competição.

A campanha do Interancional foi avassaladora. Liderado por Rubens Minelli, o Inter jogou 30 partidas, com 19 vitórias, 8 empates e apenas 3 derrotas, 51 gols pró e apenas 12 gols contra. O Internacional de 1975 foi o maior time de futebol gaúcho e um dos maiores que o mundo viu jogar.

Matéria do site do Internacional com um pouco da história do Esquadrão da Década de 70.
Excursão Invicta do Inter a Europa em 1975
GOL do Título Gaúcho - HEPTA contra os pijaminhas
GOL do Carpegiani que liquidou a Máquina Tricolor em pleno Maracanã
COMPACTO DA FINAL com narração de Celestino Valenzuela

sábado, dezembro 13, 2008

SOBRE O TEMPO...

“Moreno, voy a decir,

sigún mi saber alcanza:

el tiempo sólo es tardanza

de lo que está por venir.

No tuvo nunca principio

ni jamás acabará,

porque el tiempo es una rueda

y rueda es eternidá;

y si el hombre lo divide,

sólo hace, en mi sentir,

por saber lo que ha vivido

o le resta que vivir.” (HERNANDEZ, José – “Martin Fierro”)

JURAMENTO DE PLAYBOY

"Eu jurei fazer de tudo pelo nosso amor
Eu jurei deixar a minha vida de playboy
Eu jurei trocar meu pé de bode por um Volks
E as calças justas por um terno de senhor

Eu jurei deixar a Rua Augusta por você
Minha cabeleira de "taogana" vou cortar
O sapato branco por um preto vou mudar
E o blusão vermelho nunca mais eu vou usar

Esse juramento de Plaboy que lhe fiz
Falta pouco tempo para o prazo terminar
Neste fim de ano doutor vou me formar
Logo depois com você vou me casar

Deixe aproveitar o que me resta por favor
Não posso deixar a turma agora meu amor
Falta pouco tempo para deles me afastar
Logo depois com você vou me casar

Logo depois com você vou me casar
Logo depois com você vou me casar" (Carlos Gonzaga)


quinta-feira, dezembro 11, 2008

LENDA VIVA

As vezes temos sorte ao ligar a televisão. Hoje era meu dia; lá estava Eduardo Galeano no programa "Encontros para a História" do canal SPORTV. Em regra, o roteiro do programa envolve uma espécie de debate com 2 ou 3 personalidades. Mas hoje só deu Galeano, ele monopolizou por completo as atenções. E, de fato, trata-se de uma mente privilegiada; capaz de escrever sobre qualquer assunto com a mesma propriedade, da antologia político-social "Veias Abertas da América Latina" ao indispensável caderno de anotações "Futebol ao Sol e à Sombra", no qual traça brilhantes comentários sobre os bastidores desse mundo maravilhoso da bola. Acima de tudo uma grande figura, um jovem de 70 anos, cativante pelo dom da palavra, de calça de brim e camiseta regada, ensinando-nos a pensar e agir.

terça-feira, dezembro 09, 2008

geral é COLIGAY2000

E quem disse isso foi o Paulo Santana.

terça-feira, dezembro 02, 2008

ESTRATÉGIA I - o personagem

O Seu Adão é um dos personagens mais folclóricos aqui das redondezas do sítio. Tem uma quitanda muito sortida bem na entrada da estrada principal que leva à minha casa, ao lado do pórtico; ali vende frutas, verduras e lenha. Porém, sua especialidade é uma conversa sem prazo de duração. Anda pela curva dos setenta e é aquele tipo que sempre tem uma história diferente para contar. É claro que a banca do Seu Adão é sempre parada obrigatória entre esses dois mundos.

Hoje estacionei para comprar umas bananas e laranjas e saí de lá com algumas lições de sobrevivência fundamentais. Como definiu Seu Adão, “estratégias do tempo de minhas andanças pelo São Pedro”. Contá-las-ei em primeira pessoa.

ESTRATÉGIA II - o cenário

- Está por aí ainda Seu Adão ?

- De saída.

- Pois é, já são 8 horas.

- É, o Mercado já fechou. Quando ele fecha eu fico só mais um pouco e já vou saindo. No Natal não, no Natal tem de ficar até mais tarde.

- Seu Adão, a sua banca não era ali no canteiro ?

- Era, tu te lembra, fiquei ali uns 12 anos. Agora estou aqui faz uns 8 anos.

Tu sabe como é que eu comecei nessa de vender fruta ? Eu tinha meus 20 e poucos anos, montei uma banca de frutas ali na Avenida do Trabalhador com a Baltazar, bem ali no meio daquele cruzamento que hoje é movimentado. Fiquei trabalhando ali por quatro anos. Não tinha movimento.

Naquele tempo a Ceasa ficava ali na Praia de Belas. Não sei se tu te lembra disso, não deve se lembrar. Pois era ali, na Praia de Belas. Eu pegava a carroça e ia de lá até a Praia de Belas, era longe, passava por Petrópolis, contornava o Morro Santana. Era longe demais.

Saia às 9 da manhã e voltava lá pelas 5 da tarde, com a carroça cheia de fruta e verdura e abastecia minha banca. Trabalhava até tarde, todo dia, e de lá tinha de ir para Alvorada, aonde morava minha mãe. Quando saia antes da meia noite pegava um ônibus e deixava a carroça por lá, mas quando saia tarde ia de carroça mesmo. Era uma “cansera danada”. No outro dia voltava cedo para trabalhar.

Mas a minha esperança é que diziam que aquela estrada do Porto Seco ia ser aberta e que ia sair lá no Humaitá; aí o movimento ia crescer. Mas nunca saiu, hoje saiu, mas naquela época eu só ficava na esperança. Trabalhei quatro anos nessa esperança, nessa “cansera danada” e acabei surtando. Fui parar no São Pedro.

ESTRATÉGIA III - "ande sem olhar para o lado"

Lá no manicômio São Pedro foi uma lição. Porque lá era pior que cadeia. Fiquei um ano lá dentro. Os caras vinham para cima de ti e tu tinha de aprender a se virar, a se defender. Porque lá só tem gente do pior tipo, e tu nunca sabe o que se passa na cabeça. Eu nunca fui de briga, aí tive de aprender a me virar.

Eu conheci o José, um sujeito “clarinho”. O José era magro que nem eu. As irmãs nos respeitavam, porque agente ajudava muito a organizar tudo lá dentro. Eu e o José éramos “cotados” lá dentro; agente capinava, trabalhava no jardim; de vez em quando agente até tinha uns “privilégios” de comer lá dentro da cozinha com as irmãs. Agente era “cotado”.

Um dia apareceu um cara lá que era “deste tamanho” (imitando um gorila apresentando seus músculos). Era um bugre “deste tamanho”! E ficava parado sempre no mesmo lugar. Era tipo um corredor, aonde todo mundo tinha de passar. E o bugre parava bem ali (sobe num caixote de frutas e imita o bugre parado como um gorila). Todo mundo tinha de passar por ali. E quando os caras passavam ele agarrava pelos cabelos e dava um murro no sujeito.

Mas para jantar agente tinha de passar por ali. Aí eu chamei o José e disse:

- Zé, nós vamos passar por ali.

- Mas será Adão ?

- Vamo! Escuta, eu vou primeiro e tu fica me olhando. Depois é só tu fazer igual.

E eu tinha estudado bem o caso. Eu ficava olhando aquilo. Os caras passavam e o tal bugre pegava todos pelo cabelo e dava um murro. Mas eu percebi que era só quando eles encaravam o cara. Então a minha “estratégia” era passar devagar, bem tranqüilo, olhando para frente, sem virar o olho para o lado (nesse momento o Seu Adão simula a caminhada). E eu passei! (dando um grito e se rindo todo). E depois o José passou do mesmo jeito (e nesse momento simula o Zé, caindo na risada já no meio da caminhada).

Eu tinha estudado a situação. A estratégia era andar sem olhar para o lado, não encarar o cara, diz o Seu Adão, gritando com a voz esganiçada pelo riso e dando um tapa no meu braço.

ESTRATÉGIA IV - "faça amizade com o inimigo"

Mas tu sabe: o que tinha de louco lá dentro (colocando a mão na cabeça). E eles eram tudo perigoso. Deixa só eu te contar outra “estratégia”. Tinha época em que eram mais de 100. Aí eu e o José ficávamos cada um de um lado. Ele lá e eu aqui. Agente era os guardas ali dentro.

Por isso que eu te digo que as irmãs nos respeitavam. Agente era “cotado”, eu e o José. Eles queriam botar fogo em tudo. Aí eu disse para o Zé que nós tínhamos de cuidar aquilo, porque se um louco daqueles tocasse fogo lá dentro nós íamos nós dar mal também. E as irmãs distribuíam uns ramos de fumo. Eu nunca fumei, mas sempre pegava o ramo de fumo, porque aquilo ali eu usava para desarmar os loucos. Eu fazia amizade com eles com o ramo de fumo.

Eu chegava perto e pedia o fogo emprestado ou até a faca, porque eles, as vezes, conseguiam uma faca ou um canivete mesmo. Aí eu pegava a faca e dizia que ia “mijá” e não voltava mais com a faca do cara. Depois eles esqueciam (caindo na risada).

Eu cheguei a guardar 15 ou 20 faca; aí entregava tudo para a irmã. E ela perguntava como é que eu conseguia. A “estratégia” era não enfrentar os caras, porque, tu sabe, “eles são violento”. Não dava para chegar e tomar a arma. A minha “estratégia” era pedir emprestada para cortar o ramo de fumo; ou mentir que fumava para pegar a caixa de fósforos e inventar uma desculpa para sair de fininho.

ESTRATÉGIA V - "aprenda a caminhar para trás"

Ih, de vez em quando eu até saia lá de dentro. Tinha outra estratégia que eu saia lá de dentro, para tomar um ar na rua e ver uma paisagem diferente daqueles muros; tu sabe como é que é, né! (fazendo gestos de estar rodeado por muros). Mas eu saia e sempre voltava. Eu dizia para o José que eu queria fazer tudo direitinho, porque meus parentes iam me procurar. E eu sempre dizia para o José que eu queria sair lá, mas tudo certinho, para trabalhar. Eu quero sair daqui para trabalhar!, eu dizia para o José. O Zé também dizia.

Mas a minha outra “estratégia” era o seguinte: eu caminhava para trás. Assim ô! (e faz a caminhada para traz, se movendo para trás, mas dando passos, com flexões longas de joelho, como se estivesse numa caminhada normal). Hoje eu não consigo mais fazer direito, mas na época, “bem treinadinhu”, tu tinha de ver. Hoje eu conto para as pessoas e tem gente que não acredita. Mas naquele tempo “eu tava treinadinhu”. Eu saí várias vezes lá de dentro, na hora do tumulto. No dia da visita, na hora daquele tumulto todo, eu me misturava na multidão e saia lá de dentro caminhando para trás (cai na risada).

Tu sabe como é. Os guardas ficam ali na guarita cuidando tudo. Mas eles só ficam cuidando a “cara” das pessoas que estão saindo, de frente né! (e imita um guarda olhando para tudo que é lado). E eu lá no meio, caminhando para trás, dava a impressão de que eu estava indo na direção contrária das pessoas que estavam saindo, entendeu! (caindo na risada e me dando um tapa no braço).

Depois eu ensinei o José a fazer isso, e ele fazia também (caindo na risada novamente). Mas só nos dois. Ninguém mais saia. Quando eu voltava os guardas perguntavam:

- Mas como é que tu saiu ? Desse jeito tu vai arrumar complicação para nós Adão.

Eu não dizia, claro. E assim a gente vai. O tempo ensina muito; tu é obrigado a apreender com cada situação nessa vida. Chegou um cara querendo laranjas do céu. O Seu Adão, louco para continuar a conversa, dispensou o sujeito, afirmando que esta época não existe laranja do céu.

Aproveitei a deixa. Peguei um cacho de bananas, 6 laranjas para suco, um pacote de cenouras e um mamão. Paguei. R$ 3,50. Muito barato, pensei. Despedimo-nos com um aperto de mão forte. Liguei o carro e quando fui saindo ele ficou lá, repetindo as mesmas palavras de sempre:

- mas é bom conversar, não é ? aparece sempre vizinho! (aumentando o tom de voz).

segunda-feira, dezembro 01, 2008

ATENÇÃO! MUITA ATENÇÃO!

Cuidado, muito cuidado, pois a invasão "porteña", versão 2008/09, já está em andamento. Hoje trafegava pela BR-290, tranquilo, obedecendo o limite de 90/100 Km/h, quando fui ultrapassado por uma dessas "pick ups" com um jet sky a reboque (e placa arrentina, é claro!). A ultrapassagem foi imprudente e com velocidade absurda, em trecho com linha amarela contínua (ou seja, proibido ultrapassar). Minutos após, fui ultrapassar um caminhão que trafegava lentamente; olhei no retrovisor e lá vinha outra "pick up" voando baixo, como se não houvesse mais ninguém na estrada. Aí tive o prazer de me colocar em posição de ultrapassagem e bloquear o "arrentino"; como que fazendo questão de deixar claro que, aqui no Brasil, quem manda somos nós. Preparem-se, porque a horda porteña já está a caminho.

domingo, novembro 30, 2008

Ambush in the Night

"See them fighting for power
But they know not the hour
So they bribing with
Their guns, spare-parts and money
Trying to belittle our integrity
They say what we know
Is just what they teach us
Thru political strategy
They keep us hungry
When you gonna get some food
Your brother got to be your enemy

Ambush in the night
All guns aiming at me
Ambush in the night
They opened fire on me
Ambush in the night
Protected by His Majesty

See them fighting for power
But they know not the hour
So they bribing
With their guns, spare-parts and money
Trying to belittle our integrity
Well what we know
Is not what they tell us
We're not ignorant, I mean it
And they just could not touch us
Thru the powers of the most high
We keep on surfacing
Thru the powers of the most high
We keep on surviving

Ambush in the night
Planned by society
Ambush in the night
They are trying to conquer me
Ambush in the night
Anything money can bring
Ambush in the night
Planned by society
Ambush in the night" (MARLEY, Bob)

ROMANCE

Todas as bobagens que eu já disse
Dariam pra encher um caminhão
Mesmo assim encontro no caminho
Milhares mais otários do que eu

Por isso meu amor
Não leve tão a sério
Nem o que eu digo nem o que eu deixo de esconder
Não vai ter graça o dia
Em que bater na porta
E você não abrir pra responder

Todas as pessoas que eu conheço
Cabem bem juntinhas na palma da mão
Pra você guardei um universo
Quando falta espaço eu faço verso e durmo na canção

Por isso meu amor não pense que é brinquedo
Eu tenho medo e morro de paixão
Não vai ter graça o dia
Em que eu abrir a porta
E a tua mão vazia disser não

Por isso meu amor
Não leve tão a sério
Se eu morro de medo
Brinco de paixão
Não vai ter graça o dia
Em que eu te ver na porta
E não souber se entro
Ou faço uma canção... (NEY LISBOA)

Uva dá choque ?

sexta-feira, novembro 28, 2008

Uma nova vida

Essa tragédia das chuvas em Santa Catarina é uma das mais impressionantes dos últimos tempos. Ontem assisti ao Jornal Nacional e fiquei estarrecido com os depoimentos que ouvi; esse evento será apenas o início de histórias de vida, nas quais a força do ser humano será testada ao extremo. Perder pessoas próximas é o que de pior pode acontecer; tudo que há de material será recuperado, mas as perdas humanas jamais. Um pai que perdeu 5 filhos e a esposa jamais conseguirá reconstruir sua vida e, por isso, inicia a partir de agora uma nova vida.

Sem dúvida

"Quando você não conhece algo, você não tem responsabilidade sobre aquilo; mas quando você conhece e se intera, e convive com aquilo, sem tomar uma atitude, você está sendo negligente."

quinta-feira, novembro 27, 2008

There are places...

There are places I remember all my life,
Though some have changed
Some forever, not for better
Some have gone and some remain.
All these places have their moments
Of lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I loved them all.

And with all these friends and lovers
There is no one compares with you
And these mem'ries lose their meaning
When I think of love as something new
And I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them.
In my life I loved you more.

And I know I'll never lose affection
For people and things that went before
I know I'll often stop and think about them.
In my life I loved you more
In my life I loved you more (Lennon, McCartney)

LA PLATA - INTERNACIONAL 1x0

quinta-feira, novembro 20, 2008

MUITO ANTES DOS BEATLES

Roberto fazia seu "Rooftop Concert", mandando ver do topo de um prédio...

terça-feira, novembro 11, 2008

Uma imagem vale mais do que...

Cada um faz a sua interpretação a respeito de uma imagem. Diante deste visual "clean" da sala presidencial da Casa Branca, o que vejo é um G.W.Bush numa postura altamente descontraída e dono de si, soberano, como se o seu (des)governo fosse a maior das maravilhas; e Obama, por sua vez, com as mãos cruzadas e dedos entrelaçados me passa a idéia de alguém submisso e "pedinte". Foi o que pensei quando me deparei com a fotografia na capa do Correio do Povo hoje. Não vou contar e acho que estou longe das mil palavras.

Manchetes do Jornal

"1) 'Brasil não precisa de pacote', diz BC;
2) Roth, o ficha 1;
3) Muricy na seleção;
4) Caixão do marido mata viúva na 717;
5) Prorrogação dos pedágios chega à Assembléia;"

O mundo, definitivamente, está de cabeça para baixo!

segunda-feira, novembro 10, 2008

quarta-feira, novembro 05, 2008

PEDÁGIOS

Leio notícia dando conta que Governo do RS e concessionárias de pedágio concordam em reduzir em 20% o valor das tarifas em troca da prorrogação dos contratos por mais 15 anos. E que dentre as prioridades estariam a duplicação da BR 290 entre Eldorado do Sul e Pantano Grande e da BR 116 entre Guaíba e Camaquã.

Olha, esses são exatamente os trechos que levam a meu sítio, distante aproximadamente 50 Km de Porto Alegre; trecho para o qual tenho de despender, hoje, R$ 16,80 em tarifas de pedágio. A necessidade de duplicação é evidente, especialmente no trecho da BR 116, via de grande escoamento da produção para o Porto de Rio Grande. Porém, o que causa estranheza, além dos preços elevados, é a ausência de previsão de obras nas estradas nos contratos de concessão assinados pelo então Governador do Estado, Sr. Antonio Britto (que herança deixaste hein Britto).

Mas há ainda alguns aspectos que causam espanto.

Primeiro, a concordância das concessionárias em reduzir em 20% as tarifas, o que demonstra, inequivocamente, o superfaturamento das mesmas e o enriquecimento ilícito das empresas por longos anos. É evidente que se concordam em reduzir em 20% as tarifas (com a realização de obras estimadas em R$ 1 bilhão) é porque o valor cobrado, hoje, está muito acima das necessidades de conservação dos trechos. Aí cabe indagar: para que serve a tal AGERGS (a agência reguladora) ? Só para impor ainda mais custos à máquina estatal ? Ou para criar mais um sem número de cargos em comissão ?

O outro aspecto que causa espanto é o apoio do Poder Executivo (leia-se Yeda Crussius e PSDB) à renovação das concessões, com valores estratosféricos. Os contratos vencem em 2013. Pois bem, um gestor sério teria o caminho de revizar, nem que fosse judicialmente, os valores cobrados. Mas nunca propor a renovação dos absurdos contratos por mais 15 anos, aliando-se às concessionárias.

Há menos de um ano os leilões realizados pelo Ministério dos Transportes acarretou em concessões nas quais o valor da tarifa não será superior a R$ 1,oo, para trechos de quase 80 Km. A rodovia que liga São Paulo a Belo Horizonte, com 560 Km de extensão, terá pedágio de R$ 8,oo, divididos em 8 paradas. E as obras em tais concessões estão estimada em R$ 25 bilhões, montante 25 vezes maior do que o estimado aqui nos pampas (escrevi a respeito em outubro de 2007).

Está mais do que evidente tanto o superfaturamento de nossas tarifas como o fato de que nossa Governadora está do lado de lá do balcão. Ao invés de defender nossos interesses, a Sra. Yeda Crussius tomou o partido das concessionárias, como fez A. Britto em seu mandato.

sexta-feira, outubro 31, 2008

CUBA LIBRE

Pelo 17. ano consecutivo a Assembléia Geral da ONU votou a favor da resolução entitulada "necessidade de encerrar o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos a Cuba". Mesmo maciça maioria de votos favoráveis ao fim do embargo - foram 185 votos favoráveis, 3 contrários (Estados Unidos, Israel e Palau) e 2 abstenções - a resolução não é obrigatória e não terá impacto sobre a política norte-americana.

O mais incrível de tudo é que G. W. Bush alega que não levantará o embargo, porque Cuba não liberta prisioneiros, chamando a república centro-americana de "calabouço". Logo ele que transformou a base naval de Guantanamo num depósito aonde estão atualmente 660 prisioneiros de 43 países (a maioria afegãos), alguns deles com idade entre 13 e 15 anos ou maiores de 80 anos e para os quais não se reconhece os direitos da Convenção de Genebra (não se reconhece sequer direito de defesa ou de comunicação aos prisioneiros).

Mas, afinal de contas, o descumprimento às resoluções da ONU não é novidade. Basta lembrar que a invasão ao Iraque foi desautorizada, às vésperas, pela mesma Assembléia Geral. E nem se pode culpar, exclusivamente, G. W. Bush, pois já se vão 17 anos que a ONU condena o embargo a Cuba (R. Reagan, o pai de Bush e até mesmo o "bonzinho" G. Clinton já deram boas risadas da Assembléia Geral da ONU). Trata-se da política externa imperialista, que insiste em estender seus tentáculos pelo globo terrestre.

A propósito, acabo de assistir à declaração de Barak Obama, em telejornal, afirmando que sua eleição será importante para o povo dos Estados Unidos e do resto do mundo. Mas é muita prepotência!

quinta-feira, outubro 30, 2008

O BANGU e OS PONTOS CORRIDOS

A definitiva eliminação do INTERNACIONAL do campeonato brasileiro 2008 se deu com um empate constrangedor contra o Náutico, ontem, no Beira-Rio. Fui em todas as partidas do Gigante nesta temporada e o clube pernambucano foi a pior equipe que vi atuar neste certame. Mesmo assim o INTERNACIONAL não só empatou, como empatou de forma constrangedora, levando um gol "quixotesco" aos 48 minutos do segundo tempo.

Meu objetivo neste post, entretanto, não é comentar o jogo do COLORADO, mas observar mais uma faceta interessante deste certame por pontos corridos, já arraigado na tradição do futebol europeu e que a cada temporada ganha mais adeptos aqui na "terra brasilis". Sempre fui favorável à fôrmula, tanto pela maior possibilidade de planejamento para as equipes como pelo aspecto do respeito ao torcedor; mas especialmente pelo caráter de justiça de termos como campeão aquela equipe que melhor se preparou e se portou durante todo o certame e não num eventual triunfo decorrente dos formulismos de outrora.

Mas, voltanto ao foco do post, gostaria de anotar a faceta interessante do sistema de pontos corridos: a eliminação sem traumas. Como preconizei, desde o dia 1º de setembro, em minha coluna semanal no BLOgreNAL (edição número 85), o Internacional não tinha mais o que fazer no certame. Na época escrevi que "A diretoria do INTERNACIONAL precisa colocar os pés no chão. A Copa Sudamericana deve, a partir de agora, virar prioridade. Não temos mais qualquer chance de conquistar o Nacional ou de obter vaga para a Libertadores, sejamos realistas. Chega de ilusão!". Pois bem, transcorridos quase dois meses, aí está a confirmação, com este empate sórdido contra o Náutico.
Repito, o que surpreendeu, ontem, foi a total ausência de traumas na eliminação. Reparei no semblante da coloradagem que a torcida estava mais do que pronta para cair fora da disputa; houve como que um conformismo generalizado e até alguns sorrisos de deboche depois do gol do adversário. Aliás, tal fato somente reforçou minha convicção de que eu não era o único a ter abandonado as chances matemáticas. O campeonato por pontos corridos prepara o torcedor para o fracasso.

Talvez por isso o empate de ontem e a eliminação definitiva não tenha causado trauma algum, ao contrário de outras nos tempos do formulismo. Lembro de uma eliminação de brasileiro, em 1985, para o Bangu. Vencíamos o jogo aqui no Gigante da Beira-Rio e, com tal resultado, garantíamos a vaga para enfrentar o Brasil de Pelotas nas semifinais do certame. Até que, aos 46 do segundo tempo, Gilmar Rinaldi (nosso arqueiro) tocou a bola com a mão fora da área, num lance bizarro. Marinho, ponta direito do Bangu, cobrou a falta com perfeição no ângulo. Foi meu primeiro grande trauma no Beira-Rio. E do alto de meus 12 anos tive meu primeiro retorno quieto e introspectivo para casa.

quarta-feira, outubro 29, 2008

UMA FOTOGRAFIA



"No dia seguinte à explosão do La Courbe, improvisou-se um comício na esquina entre as ruas 12 e 23. Fidel Castro presidia o ato, em que pronunciou um discurso homenagem às vítimas da sabotagem; a rua estava cheia de gente, e flores choviam sobre o cortejo que ia passando. Eu trabalhava como fotorrepórter para o jornal Revolucion, o órgão do Movimento Vinte e Seis de Julho. Estava nun plano mais baixo que a tribuna, com uma câmara Leika de 9mm. Usei minha teleangular pequena e observei as pessoas que se achavam em primeiro plano: Fidel, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. O Che estava parado atrás da tribuna, mas há um momento em que eu passo por um espaço vazio, que está em frente à tribuna, e a figura do Che emerge de um segundo plano para a tribuna. Emerge de surpresa, enfia-se dentro do visor da câmara, e eu disparo. Em seguida me dou conta de que a imagem dele é quase um retrato e tem como fundo o céu, limpo. Viro a câmara para a vertical e tiro uma segunda foto, isso em menos de dez ou quinze segundos. O Che se retira dali e não volta. Foi uma casualidade." (Alberto Diaz "Korda", entrevista a Jorge G. Castañeda, 23/08/95)

DO ALTO DA PONTE

Mais uma vez, Porto Alegre se transformou num grande horizonte de luzes refletindo no rio. Sobre a ponte sempre me assalta o mesmo pensamento de que estou vencendo e que aquela imagem em minha retina é o prêmio. Os quadros que tantas vezes me salvaram da dureza da realidade, as imagens utilizadas para desligar uma discussão. Até criei situações em que me transformei em personagem, uma parte viva do quadro; e nessas ocasiões reparei que tantas pessoas estavam indiferentes a ele, bem ali a meu lado – como é possível, pensava ? Nunca encontrei resposta.

terça-feira, outubro 28, 2008

DEUS...

"Todo mundo vai embora
Pois a chuva não quer parar
Ninguém mais quer ficar
Só eu, sozinho, vou me molhar
Mas eu tenho fé
Que a chuva há de passar
E aquele sol tão puro
De manhãzinha bem quentinho há de chegar
E os passarinhos vão cantar
Pois a alegria vai voltar
E todo mundo que foi embora vai voltar
Agradecendo a Deus
Todo mundo vai rezar e cantar

Deus é a vida
A luz e a verdade
Deus é o amor
A confiança e felicidade."
(letra de Jorge Ben, cantada por Gal Costa)

segunda-feira, outubro 27, 2008

Piratini (des)governado

Duas notícias deixaram-me estarrecido a respeito do rumo conferido à administração do Estado do Rio Grande do Sul. Primeiro a posse do titular da finalmente criada Secretaria da Transparência (após o incidente da renúncia da Sra. Mercedes Rodrigues, antes mesmo de ser empossada no cargo). O absurdo está na criação da própria pasta que, segundo as notícias, terá por finalidade prevenir episódios de corrupção na gestão pública.

Mas, afinal de contas, que governo é este que precisa criar uma secretaria para tentar passar uma imagem de transparência à sociedade ? Cria-se todo um aparato de recursos humanos, físicos e materiais para sustentar uma Secretaria de Estado que não deveria existir, pelo simples e basilar motivo de que transperência é dever de todo administrador e decorrente, aliás, das próprias normas diretrizes da administração pública traçadas pela Constituição Federal. O ato administrativo de criação dessa secretaria, sem dúvida, é passível, inclusive, de ataque pela via de uma ação popular e deveria ser devidamente impugnado pelo Ministério Público. Talvez assim se pudesse evitar os gastos dele decorrente, com a nítida finalidade de atender a um capricho marqueteiro do(a) governante de plantão.

A outra notícia veio em entrevista coletiva do Sr. Aod Cunha, Secretário das Finanças concedida hoje, na qual comemorava o pagamento de fornecedores em dia. Com isso, disse o chefe do cofre estadual, evitar-se-á o reiterado pagamento de juros e, também, diminuir-se-á o preço em futuras aquisições. Citou o exemplo de remédios, cujos preços caem cerca de 140% em virtude do adimplemento em dia e comemorou a economia de aproximadamente R$ 40 milhões mensais pelo caixa. Mas isso lá é coisa para se comemorar após dois anos de administração ? Dois anos para regularizar o pagamento de fornecedores. É a divulgação de algo que deveria envergonhar como se fosse uma grande conquista (?!).

O pior não é isso. Ao mesmo tempo que se comemora fato que deveria ser corriqueiro, também se divulga que não será necessário buscar via empréstimos mais do que 50% dos valores necessários ao pagamento do 13º do funcionalismo. E isso se divulga como uma grande conquista. Mas é uma barbaridade! É a completa inversão de valores em voga.

Das duas uma, ou a administração de G. Rigotto deve ser auditada inteiramente para se encontrar a natureza deste rombo descomunal ou a atual administração não está conseguindo cumprir com a sua promessa de austeridade, eficácia e celeridade no saneamento das finanças. A crise institucional pela qual passa o Rio Grande é terrível; um governo envolto em escândalos de corrupção e uso abusivo da máquina pública e que não consegue sanar suas finanças. A situação é muito preocupante.

domingo, outubro 26, 2008

TAPETE DE ESTRELAS

Uma das coisas que mais glorifico por aqui é o ritual da limpeza do céu. Quando quantidades incalculáveis de nuvens densas e carregadas cedem espaço a uma gama incontável de estrelas. É sagrado ficar ali, debaixo de curiosos satélites, a observar a fuga das nuvens, de sul para leste, com imensa velocidade e incríveis variações de figuras desenhadas. Depois de praticamente 48 horas debaixo de chuva incessante, aprecio ainda mais o ritual; e vou madrugada adentro, conferindo a cada tempo o aparecer de um novo tapete de estrelas.

sábado, outubro 25, 2008

VENTOS DE OUTUBRO

Estou quase em novembro mas ainda sinto frio. E aqui, longe das paredes, assisto a um Eucalipto desenvolvido dançar com as rajadas de vento sob o céu da noite avermelhada, bem em frente a meus olhos. Os já conhecidos barulhos da noite trazem destaque ainda maior ao silêncio; ouço tudo, inclusive alguns pingos da chuva que se aproxima caírem na terra. A campeira protege do frio e desses poucos pingos, ajuda a manter-me ali, estático, voando longe em pensamentos com os ventos de outubro.

quinta-feira, outubro 23, 2008

GIGANTE COLORADO


Sinto-me na obrigação de traçar algumas linhas sobre a vitória do INTERNACIONAL sobre o Boca Jrs. Foi daquelas partidas para guardar na memória, com o Gigante da Beira-Rio abarrotado e transformado em Caldeirão Colorado. É verdade que ganhar do Boca Jrs. não é novidade alguma para nós; quem não lembra daquela vitória com gol espetacular do Fernandão, aos 47 minutos da segunta etapa, em 2005 ?

O clima no estádio era de grande jogo. Os argentinos, mesmo com um time de jovens, tentaram se atrever e nos encarar. E foi exatamente aí que o INTERNACIONAL mostrou algo que me deixou orgulhoso: postura de time grande.

A partir da segunda etapa, o INTERNACIONAL massacrou os "meninos da Boca", deixando clara sua superioridade não só técnica como também emocional. Os dois gols de Alex foram apenas o coroar de uma atuação vigorosa. Índio e Bolívar estiveram impecáveis, ao intimidar os "delanteros" rivais; Edinho, de forma surpreendente, conseguiu se impor sem fazer faltas; Magrão mostrou que cresce nos grandes jogo e Nilmar, na frente, é a certeza de que pelo menos três zagueiros estão fora do jogo (esse é o grande nome de nosso time!). Sobre Alex não preciso comentar: trata-se, sem dúvida, do melhor jogador em atividade no futebol brasileiro na temporada 2008.

Foi um verdadeiro triunfo sobre os argentinos. De deixar orgulhoso o povo do Rio Grande. Aliás, não só do Rio Grande, qualquer torcedor de clube brasileiro gostaria de estar em nosso lugar ontem a noite, vencendo o Boca Jrs. de forma incontestável. O torcedor Colorado pode ser orgulhar, temos um time grande!


quarta-feira, outubro 22, 2008

Epopéia Anônima


"Por fim, a entrada na revolução de Felipe Portinho, amparado por um nome cercado de prestígio e respeito em toda a Serra. Era mais do que um nome: - uma linda tradição bizarra que vinha de 93 documentada por valioso acervo de magnífica bravura varonil. Mais do que uma esperança, o seu concurso retemperava a certeza do êxito." (Roque Callage, "O Drama das Coxilhas" 1923).

quarta-feira, outubro 15, 2008

MESTRE

A velha sabedoria do saudoso João Saldanha, o João Sem Medo.

sexta-feira, outubro 10, 2008

PEDALADAS

quarta-feira, outubro 08, 2008

CRISE MUNDIAL

Não há mais como duvidar, a crise dos norte-americanos se internacionalizou; deixou de ser uma crise do mercado financeiro para ganhar o mundo real e afetar negativamente todas as previsões de PIB mundiais. Originada na multiplicação desenfreada de créditos podres, carentes de garantias, trata-se de uma crise que, de fato, somente poderia ter sido gerada num sistema neo-capitalista como é o norte-americano; aonde os mais ricos podem tudo, sem quaisquer tipo de restrições ou regulamentações à sua sanha especulativa.

No neo-capitalismo, a concessão de crédito, mesmo que sem qualquer garantia e diante de grandes probabilidades de inadimplência, é algo louvável. Afinal de contas, se estes créditos podres não forem adimplidos, também é marca do neo-capitalismo a socialização dos prejuízos, cujos exemplos mais nítidos (para não dizer grotescos!) são a nacionalização da AIG Security, maior seguradora dos Estados Unidos, e a distribuição de U$ 1 trilhão para salvar as contas dos especuladores.

E assim caminha a humanidade, enquanto formos dependentes do Império do Tio Sam.

JOGO DE CENA

Para quem acha os debates eleitorais tupiniquins um grande jogo de cena, condição na qual me enquadro, assistir a não mais do que 10 minutos do debate entre Obama e Mc Cain foi quase como que estar diante de uma grande peça teatral.

Se é verdade que a economia norte-americana comanda o mundo (com o que, infelizmente, sou obrigado a concordar - e a atual crise global corrobora), estamos na iminência de dias sombrios. Afinal de contas, quem vencer a eleição já parte do caos deixado pelo mais imbecil dos imbecis que presidiram os Estados Unidos, o G. Bush (ele conseguiu até mesmo superar figuras dantescas como R. Reagan e seu pai, o Bush Senior).

Mas voltemos à peça teatral, ou ao debate, se preferirem. Fiquei impressionado com a superficialidade dos dois candidatos a Imperador da Humanidade. Obama e Mc Cain são farinha do mesmo saco. A diferença entre democratas e republicanos é mínima, para não dizer inexistente. Ambos carregam a grande característica do bom filho de Tio Sam; são megalomaníacos. Para ambos tudo que há de bom no universo está dentro dos limites do território norte-americano, e os males globais habitam terras distantes. Para o aquecimento global, a mágica solução são combustíveis alternativos (como se tudo no universo se limitasse à produção de riquesas); estão pouco se lixando para os níveis de poluição produzidos dentro de seus países.

Indagado sobre os problemas da área da saúde, Mc Cain prometeu um cheque de U$ 5 mil para cada americano. Desliguei a televisão, na hora! Fui dormir, mas o pensamento de que nossa sociedade cada vez mais se aproxima desses perversos valores atrapalhou meu sono.

Quer aprender a nadar ?

sábado, outubro 04, 2008

MEU TATARAVÔ

"CADEIRA DE PORTINHO ESTÁ BEM CUIDADA

O historiador Fritz Stroschoen, 88 anos, guarda em sua casa uma relíquia do século XIX: a cadeira utilizada por José Gomes Portinho, o general Portinho, cunhado de Antônio Vicente da Fontoura e um dos revolucionários da Revolução Farroupilha. Segundo ele, a cadeira desmontável era levada pelo general em suas batalhas e utilizada para seus momentos de descanso. A cadeira foi encontrada no sóton da casa de um dos familiares de Portinho por Salita Abreu, que a reformou e vendeu ao historiador por 100 mil réis. Ele não soube precisar a quantos anos a cadeira está em sua casa. "Esta peça é extraordinária. Desde a primeira vez que a vi quis muito ficar com ela", relembra o historiador." (fonte: JORNAL DO POVO - Cachoeira do Sul-RS)

MEU BISAVÔ

é o sétimo vivente, da esquerda para direita...

sexta-feira, outubro 03, 2008

RELANCE

"Pare, repare
Cite, recite
Salve, ressalve
Volte, revolte
Trate, retrate
Vele, revele
Toque, retoque
Prove,reprove
Clame, reclame
Negue, renegue
Salte, ressalte
Bata, rebata
Fira, refira
Quebre, requebre
Mexa, remexa
Bole, rebole
Volva, revolva
Corra, recorra
Mate, remate
Morra, renasça" (Caetano Veloso e Pedro Novis)

quarta-feira, outubro 01, 2008

1, 2, 3, 4...





"Se tivesse forçado, talvez ampliasse a goleada. Em determinado momento, o Inter trocou passes por dois minutos, para delírio da torcida, que gritava "olé". O líder levava uma lição para não ser esquecida" (Correio do Povo, 29 de setembro de 2008).

Ficha técnica:

Internacional (4): Clemer; Ângelo (Danny Morais), Índio, Bolívar e Gustavo Nery; Edinho, Magrão, Guiñazu e D´Alessandro (Taison); Alex e Nilmar (Adriano). Técnico: Tite.

Grêmio (1): Victor; Léo, Pereira (Jean) e Rever; Paulo Sérgio (Souza), Rafael Carioca, Ortemann, Tcheco e Anderson Pico; Perea (Willian Magrão) e Marcel. Técnico: Celso Roth.

Gols: D'Alessandro (I), aos 4min do primeiro tempo, Tcheco (G), aos 18min do primeiro tempo, Alex (I), aos 28min do primeiro tempo, Índio (I), aos 39min do primeiro tempo, Nilmar (I), aos 44min do primeiro tempo.

Amarelos: Ortemann, Tcheco, Léo, Willian Magrão (G), Guastavo Nery (I). Expulsões: Tcheco (G) e Edinho (I).

Público: 42.590 / Renda: 728.200,00

Arbitragem: Evandro Rogério Roman (PR), auxiliado por Roberto Braatz (PR) e Milton dos Santos (RN). Local: Beira-Rio, Porto Alegre.

QUATRILHO

terça-feira, setembro 30, 2008

Duas faixas se destacaram em meio à torcida do INTERNACIONAL, em letras azuis, preta e brancas: "S É R I É B" e " C O L I G A Y".

ANOS 80 NA VEIA...

Bah! Que pérola. Quem não tinha aquela fita K7 surrada do TRIO, gravada e regravada, bom sujeito não é.

quarta-feira, setembro 24, 2008

SALÃO DE FESTAS...


Você sabe que camisa é essa ? Não conhecia ? Pois é, foi esta a camisa que utilizamos no primeiro clássico gNAL realizado lá na azenha, em 26 de setembro de 1954, e que terminou com vitória sonora de SEIS_a_dois para o INTERNACIONAL.

A partir daí, já no primeiro clássico, se cunhou o "apelido" de "Salão de Festas" para o Olímpico Monumental.

Há exatos 54 anos. Recordar é viver!

segunda-feira, setembro 22, 2008

She lives on...

"... she has wisdom and knows what to do ..."

sexta-feira, setembro 19, 2008

38 ANOS SEM JIMI HENDRIX

Há 38 anos morreu de overdose, em Londres, o maior guitarrista de todos os tempos; um mito que reinventou a forma de se tocar guitarra e que, ao menos nas últimas 4 décadas, não foi superado. Como disse o Nando Gross, em seu blogue, escuto Hendrix desde piá e nunca deixei de gostar e, de preferência, sempre no volume alto. Abaixo um video com o cara mandando ver de canhota, ao vivo (a natureza pura de Hendrix), no diálogo entre o cômico e o ladrão, em All Along the Watchtower.



HENDRIX - MINHA FAVORITA

Embora Jimi Hendrix seja sinônimo de alavancas na guitarra ou distorçoes com pedais wha-wha, minha favorita do cara sempre foi "Drifting", uma música extremamente calma, de letra romântica e lírica, mas que, nem por isso, deixa de expôr o que há de melhor em Hendrix.


sexta-feira, setembro 12, 2008

GAUCHO






José Geraldo da Luz é um baita d´um gaúcho. Recebe todos da mesma forma, sem diferenciar o rico do pobre. É o cara incumbido de manter acesa a chama do fogo eterno (assim ele o denomina). Há 9 anos o mantém, dia e noite, movimentando com sabedoria os tocos de lenha. É o típico gaúcho, sempre em movimento, cultivando espaços e reforçando laços. Vai levando a lida entre cuias de mate; demonstrando a importância de seus valores mais fundamentais.

CHALEIRA




Ela fica lá, o dia inteiro debaixo de fogo, dia após dia. A qualquer hora, sob qualquer tempo, faça frio ou calor, aquecendo a água e acompanhando a prosa. No meio do entrevero, cercada de gaúchos, é o esteio das almas. Chaleira de ferro, te quero sempre por perto, para manter vivas as tradições mais fortes deste chão.

RACIONAL...

"Qualquer experiência religiosa é prejudicial ao ser humana; qualquer experiência de extravaso é benéfica ao ser humano." (Sebastião 'Tim' Maia).

quinta-feira, setembro 11, 2008

Jornalismo...

O atentado das Torres Gêmeas cobre os noticiários. Engraçado, poucos meios lembram o bombardeio ao Palácio de La Moneda, em Santiago, no mesmo 11 de setembro. São raríssimas as lembranças. O fato desencadeou o nascimento da mais sangrenta das ditaduras militares da América do Sul, com mais de 200 mil pessoas torturadas pelos comandados do General Pinochet. Por trás de tudo, a inteligência e o apoio do governo norte-americano. Mas o atentado às Torres Gêmeas, sem dúvida, rendem "manchetes mais interessantes". De toda forma, sempre é válido não deixar cair no esquecimento o bombardeio de La Moneda.

terça-feira, setembro 09, 2008

TE DAREI O CÉU...

segunda-feira, setembro 01, 2008

BORRACHO




sábado, agosto 30, 2008

Compromissos

Todas as coisas que tenho para fazer
levam meu tempo embora.

Nos dias em que acordo
pensando nelas.
Nas coisas que deixo de fazer
preocupado com elas.

Essas coisas
que guiam meus atos,
refúgios de meus sumiços;
escravo desses compromissos

São essas coisas que definem
os lugares pelos quais vou,
as pessoas a quem procuro
e com as quais me relaciono.

Por isso gosto tanto de acordar
no mais pleno silêncio.
De eleger minhas prioridades
e traçar meus próprios caminhos.

ANOITECENDO...

Faz muito frio. A claridade já se foi; agora só resta um mínimo de luminosidade, siluetas por todos os lado. O céu ainda está azul, mas agora num tom bem mais forte, quase escuro. O canto dos pássaros é completamente diverso, imperativo, como toque de recolher. E do lado de lá, aonde o sol se pôs, há uma linha que mescla branco com um tom de vermelho desbotado; ali ainda se pode identificar, rarefeito, o verde das árvores. Enquanto escrevo, o frio e a escuridão avançam de forma implacável...

PÉ DE INGÁ

O Pé de Ingá
que a pouco não passava de muda,
agora é refúgio de pássaros,
faz sombra para o calor.

Fico sentado,
debaixo de incontáveis galhos,
a observar as longas raízes
cortando a terra.

E entre tantos pensamentos,
sobrevivendo às intempéries,
o Pé de Ingá é um símbolo
do tempo bem transcorrido.

quarta-feira, agosto 27, 2008

JORNAL DO ALMOÇO

É muito pobre, do ponto de vista jornalístico, a pauta do programa Jornal do Almoço. Há alguns anos não assistia. Ligo a TV, e lá está uma reportagem sobre os estacionamentos da Expointer. Todo ano a mesma pauta! E, na sequência, um comentário do Lasier metendo pau em tudo e todos, na BR116. Fecha o "brilhante" comentário com a afirmação: "mas esse ano a feira será melhor!". Putz!

domingo, agosto 24, 2008

EL BAÑO DEL PAPA

Fui ao cinema assistir "El Baño del Papa". Longa uruguaio de Cesar Charlone, muito comentado, depois de vencer o prêmio de melhor filme estrangeiro de Gramado em 2007. Meu interesse pelo filme era particular, porque o mesmo se passa em Melo, cidade da República Oriental que faz fronteira com Aceguá e Jaguarão, na qual estive por duas oportunidades para jogar basquete. Pois é, minha curiosidade pelo filme tinha este cunho de rever um pouco das ruas e recordar as pessoas e hábitos de Melo.

O roteiro é baseado na visita que o Papa João Paulo II realizou à América do Sul em 1988 e na espectativa criado na população pobre que vive nesta região da fronteira, iludida pela possibilidade de fazer dinheiro com tal evento, através da venda de comida, souvenirs e de qualquer bugiganga. O personagem central, Beto (Cesar Trancoso - em ótima performance), é um dos tantos habitantes de Melo que vivem de realizar viagens até Aceguá para comprar produtos e repassá-los aos comerciantes locais; cheio de idéias e com muita vontade de ganhar dinheiro e mudar a vida misérável de sua esposa e filha, ele resolve construir um banheiro para os visitantes do Papa. A trama se desenvolve entre os insucessos do protagonista e as dificuldades e agruras da vida miserável e sem perspectivas do povo de Melo.

No geral, o filme espelha muito bem a realidade; de fato, se há muita pobreza e falta de recursos na região, em contrapartida a solidariedade do povo é fantástica e algo que pude constatar numa dessas vezes em que lá estive. E essa é a mensagem que o filme pretende transmitir. Diante do atual momento no qual o individualismo é a tônica e os valores capitalistas cada vez mais se exacerbam no ser humano, o diretor consegue transmitir uma visão diferente, aonde os sonhos ganham espaço e a amizade está acima de tudo.


ESTOU SEM ADJETIVOS

Acabo de assistir ao melhor jogo de basquete de minha vida. Não tenho adjetivos para definir a disputa pela medalha de ouro nas Olimpíadas 2008 entre Espanha e Estados Unidos. Comecei a assistir ao jogo imaginando um triunfo relativamente fácil dos norte-americanos, chefiados pelos astros Kobe Bryant e Lebron James. Mas os espanhóis foram, durante toda a partida, me iludindo e me fazendo acreditar que era possível sim derrubar o supertime. Fiquei espantado com o nível técnico e, especialmente, de preparação física dos atletas. É impressionante a força muscular de cada um dos 24 atletas que lá estavam, numa verdadeira batalha de gigantes. Além dos irmãos Gasol, do ala Jimenez e do armador Rudy Fernandes (que partida!), os espanhóis possuem um diamante: o jovem Rick Rubio, com 17 anos, demonstrou técnica e um nível psicológico impressionantes para sua idade, além do atrevimento e coragem típicos de jogadores extra classe. Foi um jogaço, uma aula de basquete imprescindível para aqueles que militam na modalidade.

sexta-feira, agosto 22, 2008

quarta-feira, agosto 20, 2008

EL VIAJE HACIA EL MAR

Ontem tive a oportunidade de rever "El Viaje Hacia el Mar", um de meus filmes favoritos. O road movie uruguaio, escrito e dirigido por Guillermo Casanova, situado na década de 60, conta a história de 5 amigos de uma tediosa localidade no interior (Minas) que, numa manhã, se encontram, como de costume, num bar e resolvem embarcar numa velha caminhonete para realizar o sonho de ver o mar. Ao longo do caminho, a estória vai desvendando a personalidade, sentimentos e diferentes visões de mundo dos personagens, inspirados pela beleza das paisagens. Gosto, especialmente, do negativismo-cômico do personagem Quintana e das rusgas permanentes protagonizadas por Vasco, sem contar a "rabugice" permanente do piloto Rodrigues. A cena da capa (ao lado) é a mais bela do filme e o plano sequência um dos mais engraçados, com a visão de cada personagem a respeito do mar. Baita d´um filme. Vale a pena conferir e ver de novo, sempre.

LITERATURA TRASH

Apresento um texto que tive oportunidade de ler há cerca de 8 anos no site NAO-TIL (que voltou à ativa e cuja leitura recomendo). O autor do obra "Calcinha Azul Brilhante" assumiu o codinome de "El Comanchero". Para quem gosta de literatura trash é um deleite.

CALCINHA AZUL BRILHANTE

"Nas agruras da vida suburbana encontrei um porquê para minha existência. A calcinha da minha vizinha no varal. Ela não sabia. Mas todo dia quando ela saía para o trabalho e deixava as roupas no varal nos fundos de sua casa de madeira, eu, um desempregado, um inútil, um vagabundo, ficava ali, a observar sua calcinha. Um dia era branquinha, alvinha, límpida. No outro dia tinha desenhos com florzinhas e isso me deixava excitado. Um dia ela pendurou uma calcinha azul brilhante. Isso me deixou realmente puto. Calcinha azul. Brilhante. Saí de casa louco da vida e fui no boteco do Tadeu tomar uma canha.

- E aí, Tadeu, vê aquela!

Pago meus cinqüenta centavos e tomo num gole. Como era triste gastar o dinheiro da aposentadoria do meu pai, que ainda trabalhava de servente de obra na capital, em cachaça. Mas, fazer o quê? Era meu destino. Tomei mais dois tragos enquanto ganhei uma partida de pife de um velho que passava o dia inteiro ali perdendo partidas de pife. Pelo menos ele não perdia o tempo dele no bingo. Agora tomei bastante coragem. Voltei para casa, liguei a tevê. Estava passando Angelmix. Fiquei de pau duro e bati uma bronha quando apareceu a Sandi cantando, se bem que o Júnior já dava pra quebrar o galho. Na punheta. Fumei um só pra aliviar a pressão alta do corpo com o álcool da cachaça e fui pros fundos da casa. Minha mãe tinha ido visitar minha tia doente no Pronto Socorro. Ela estava na fila de espera do SUS. Bem feito! Quem manda a gente ser pobre e ainda ter doença de rico. Câncer. Que burrice! Encarei bem a calcinha azul brilhante. Como deveria ficar a vizinha, aquela mulatinha de perna fina, cabelo crespo comprido, bundinha arrebitada e peitinhos pequenos e duros. Ah! Eu já tô ficando louco. Tiro minha camisa, meus tênis All Stars roubados, minhas calças da Gang que ganhei na campanha da fraternidade e minhas cuecas rasgadas no rego de tanto lavar com clorofila no tanque. Agora era a hora. Tomei fôlego. Corri como um louco, pulei o muro e invadi o terreno da vizinha. Peguei a calcinha. Azul brilhante. E pulei outro muro. E outro muro. Me escondi em um terreno baldio onde os trafi da área de vez em quando desovavam mercadorias perigosas e cheirei aquela calcinha. Cheirei. Tinha o cheiro doce, cru, mal lavada que estava, cheirinho de buceta lavada. Cheirinho do inferno e do paraíso.

Agora não tem mais volta. Ninguém mais pode me salvar."