domingo, dezembro 31, 2006

A NOVIDADE.

Cheguei aonde já conhecia.
Notei algo diferente:
uma alma, uma vida, uma cria.

E lá estavam todos,
andei pela casa a vontade,
passei pelas peças,
reconheci toda a simplicidade.

Fui aos fundos e lá estava;
a novidade.
Olhos negros,
brilhando para todos próximos;
sorriso, sons, gestos.
A vida por inteiro!

Não há ali qualquer espécie de caridade.
Sai daquela casa,
mais uma vez,
sem qualquer dúvida,
aquelas são pessoas de verdade.


LPortinho, Caputera - Laguna, 30.dez.2006.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

E hoje ?

Saudades!
Dirijo meu carro pela auto estrada. A cidade à esquerda com o dia querendo nascer; o rio à direita.
Saudades! Só saudades!

domingo, dezembro 24, 2006

Fotografias

Olhando as velhas fotografias, que encontrei no fundo do armário, tive a impressão de que o passado estava congelado e perpetuado. Lembrei de cenas e momentos que estavam adormecidos num canto qualquer de minha debilitada memória.
Foi um dia estranho! Já na manhã, ao acordar cedo, tive a impressão de que vultos me rondavam, tentando me dizer ou mostrar alguma coisa. Encontrava-me solitário em casa naquela semana, porque todos tinham ido viajar. Havia pensado numa noite forte, festa, mas, no decorrer do dia, a idéia foi dando lugar a um cansaço e uma nostalgia incríveis. Saí do trabalho, após uma tarde cansativa - não tanto pelos afazeres, mas sim pelo têdio. Para piorar, me aborreci um tanto mais no trânsito insuportável da cidade (ah! essa espinhosa missão de ser obrigado a fazer uma coisa exatamente na hora que todasa as outras pessoas também a estão fazendo).
Chegando em casa, só pensava em relaxar e esquecer aquele dia! Abri a porta, liguei o rádio e escutei o "Show dos Esportes". As novidades do Internacional eram a contratação do paraguaio Enciso e o interesse por Jorginho, zagueiro baiano que chamou atenção à época em que atuava pelo S. C. Bahia (se bem que zagueiro baiano é complicado de acertar).
Desliguei o rádio e fiquei pensando na vida! Vieram-me as inevitáveis imagens do passado... Resolvi procurar a caixa de fotografias. Achei-a no fundo de uma prateleira do armário. Com a companhia de uma garrafa de "Something Special" e aquela coleção de Jazz sendo apresentada à agulha do velho toca discos me debrucei sobre a caixa de fotografias.
Ainda pensei algumas vezes em telefonar para ela, mas o dia não aconselhava tal atitude. Resolvi me "ajorjar" sozinho (lembro que ainda tive a idéia de ligar a secretária eletrônica e me livrar de qualquer chance de incomodação).
Dei início à degustação do wisky, servido em copo baixo, com 3 ou 4 pedras de gelo. Comecei a sentir as vibrações do jazz que soava livre pela sala. Comecei a ver as fotografias. Pessoas e fatos marcados por elas. Tinha a nítida ilusão de estar acompanhado por vultos; pareciam se comunicar comigo através dos timbres da música.
Puxa, como Porto Alegre era linda nesta época! Faz tanto tempo! É incrível como as fotografias conseguem transmitir noções e sentimentos de forma tão fiel. Minha nossa, essa foto é magnífica; lembro perfeitamente do dia em que a tirei: sentado no cais do porto, esperando por alguma coisa, por um momento especial, não tinha sequer idéia de que ele surgiria bem ali, em minha frente, à distância de um simples clicar - aquele momento fantástico em que as imagens passam para a eternidade, num piscar de olhos.
Ouvindo o disco de Gizzy Gilespie, conservado pelo tempo e pela lenda, me sentia ao lado de meu pai. Tinha certeza de que ele estava ali, com sua tranquilidade e sabedoria, me fazendo pensar na vida, nas coisas e nas pessoas. Falava-me sobre coisas das quais não tivemos tempo de conversar; mostrava-me outras que não pude ver; perguntava-me sobre o que eu não pude lhe explicar. Compreendi que o tempo não pode ser freado, mas que eu podia, quando quisesse, parar; ficar um segundo ou uma vida pensando; decidindo, sem interferências, sobre o momento seguinte.
E a noite se foi assim, em meio a lembranças, viagens, lágrimas, sorrisos, timbres, acordes, sopros e imagens. Naquela noite, corri, pulei, senti, chorei, chutei e toquei. Encontrei pessoas que não via há tempos, conversei com elas assuntos que estavam pendentes há anos; visitei-as em suas vidas distantes.
Pois é, neste dia me toquei que as fotografias estarão sempre ali, intactas, esperando por mim. Quando eu precisar, elas estarão lá, guardadas dentro de um armário qualquer, com suas imagens e estórias, prontas para retornar à vida e me transformar no senhor de meu tempo.
LPortinho, 21.julho.1996.

Água e Vinho

Me sinto bem estando em casa.
Aqui tenho tudo de que preciso.
Cama, comida, música e solidão.

Ontem estive no mundo;
fui para festa.
Encontrei muita gente,
lindas mulheres.
Andei pelo luxo e acabei no lixo.

Agora estou aqui, em casa,
ouvindo o payador idolatrar Quintana.
Na minha frente tenho água e vinho...

LPortinho, 21.dezembro.2000.

Sossego

Sossego, Tim Maia, no rádio, justo no meu primeiro dia de férias. E me liga a Mônica para contar que foi chamada no Tribunal. Sossego e boas notícias. Assim se desenvolvem os dias. Do sol batendo na veneziana do quarto (nem era bem um sol hoje - a claridade, digamos, se adequaria melhor), a Kaya ouvindo meus primeiros movimentos e ávida pela sua dose matinal de ração, o canto dos passáros, a chaleira no fogo e a primeira cuia de mate em seguida, um mergulho na piscina ou na infinidade de pensamentos que me levam longe sem um único movimento, uma cebola picada e um prato de comida, o comentário do Cláudio Cabral ao meio dia, o silêncio sepulcral do pós-rango - a impressão de que tudo está parado, o primeiro pássaro voando, o vento que bate manso nas árvores, a Kaya sempre me seguindo e sentando ao meu lado, quando paro, na parceria; mergulhos, mergulhos infinitos e sem direção, a chuva caindo incessante, cuias e mais cuias de mate como se a erva pudesse me ouvir e compreender, linhas, parágrafos, páginas e mais páginas, vinho, pensamentos próximos e distantes, regados a vinho, encontrando respostas e criando novas indagações, o tempo transcorrendo sem ponteiros.
LPortinho, Guayba, 24.janeiro.2006.

O tempo, a pena e o copo

Deixem-me só com uma pena, um copo de cerveja e com o tempo. Hoje me sinto bem tendo essas coisas; não mais preciso andar por aí procurando-as. Nalguns dias, é certo, tenho de conciliar o tempo para várias outras coisas fazer antes de encontrar a pena e o copo. Mas o tempo é assim mesmo, sempre que estamos a procurá-lo ele se esconde com incrível e notável astúcia; deixamos de perseguí-lo e ele de nós se aproxima, como um grande amigo e aliado, fica ali ao nosso lado, ao nosso dispor. Certas vezes, fico o dia inteiro ao lado do tempo, brincando com ele e escolhendo o que, como e quando fazer. Nesses dias, algumas vezes, encontro a pena e o copo.
LPortinho, 19.outubro.1999.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

NECESSIDADE

Que inveja tenho da criança que passa por mim picando sua bola velha com gomos abertos
Que vontade tenho de dominá-la, de recebê-la com a parte interna do pé, de ajeitá-la no terreno, de acariciá-la e de fazê-la viver;
Que saudade tenho de quando meus passos eram temidos pelo adversário, de quando meus movimentos eram tão rápido quanto a bola rolando em direção ao gol, da época em que desfilava pelo mundo;
Que necessidade tenho de lembrar esses dias, de saber que as crianças continuam picando bolas e aprendendo a chutar.
Que bom que estou vivo!
LPortinho, Partenon, Porto Alegre, 29.agosto.1997.

sábado, dezembro 09, 2006

NUM SEGUNDO

Aqui aprecio mais os dias do que as noites;
os raios do sol,
no final de tarde,
como a iluminar a alma.

E fico sentado,
mateando em silêncio à varanda,
a contemplar
o que a brisa faz com todo este verde que me cerca.

Os pássaros como a levar uma sinfonia
de um único espectador.
A eterna procura de respostas.


LPortinho, Guayba, 9.dez.2006

terça-feira, dezembro 05, 2006

UM PENSAMENTO QUE LI

"Pessoas entram na sua vida por uma razão, por uma estação, ou por uma vida inteira. Quando perceber qual motivo é, voce vai saber o q fazer com cada pessoa. Quando alguém está em sua vida por alguma razão, é geralmente para suprir uma necessidade que voce demonstrou. Elas vem para auxiliar em uma dificuldade, fornecer apoio e orientação, ajudar física, emocional ou espiritualmente. Elas poderão parecer dádivas de Deus, e são!! Elas estão lá pela razão que voce precisa que estejam lá. Então, sem nenhuma atitude errada de sua parte ou em uma hora inconveniente esta pessoa vai dizer ou fazer alguma coisa para levar esta relação ao fim. Ás vezes estas pessoas morrem. Ás vezes elas simplesmente se vão. Ás vezes elas agem e te forçam a tomar uma posição. O que devemos entender é que nossas necessidades foram atendidas. Nossos desejos preenchidos e os trabalhos deles feitos. As suas orações foram atendidas, e agora é tempo de ir. "

sábado, dezembro 02, 2006

REPETIÇÕES


São quatro e vinte... Chego em casa, ouço vozes, Baby, Drica, Kazu. Quem no mundo não está bêbado ? Há um carro na vaga. Uma conquista nem sempre é completa! E tudo segue, da mesma forma, sempre igual, repetições eternas.

BOLA LARANJA


A noite espetacular. Lua alaranjada descendo sobre o Rio Guayba. E eu transitando, como quero, pela avenida Beira-Rio, Porto Alegre toda minha, aonde e como eu quero, do jeito que eu quero, como sempre gostei. Não é a primeira vez que estou vendo esta bola laranja cair no Rio; isso é um privilégio, isso sim, quantas pessoas já a viram, dessa forma, alaranjada, caindo e se perdendo dentro do rio ?!

quarta-feira, julho 26, 2006

O VENTO

Dias importantes esses... Se foi a chuva, veio o sol com dia claro, o calor deu lugar a muito frio. Já não escuto mais barulhos e as únicas vozes são do vento, a chiar pelos cantos. Se tudo mudou é porque a vida, necessariamente, deve prosseguir. O que havia já não era mais suficiente e satisfatório. É preciso descobrir o por que, e, para isso, me pego remoendo fatos, palavras e gestos. Já não os tenho por completo, mas tento encontrar os por ques! Esses dias são importantes. Entre uma lida e outra, ou mesmo quando me surpreendo contemplando o silêncio, desenho caminhos e redescubro o significado de pequenas coisas. Vou longe como o sopro do vento...
LPortinho, Guayba, julho.2006.

terça-feira, junho 20, 2006

JÁ É INVERNO.

Tenho madeira, pão e vinho.
A chuva deu lugar ao céu estrelado,
num canto da vidraça o pedaço da lua brilha.
Ela já não convive comigo
e eu estou aqui, como uma ilha.
Amanhã vou sorver um mate abaixo do sol,
para calentar o corpo e a alma.
LPortinho, Guayba, junho.2006.

sábado, abril 08, 2006

MARCAS

Derramei vinho numa folha acima desta, de propósito; ficou muito umidecida, até escorrer para esta. E as coisas são assim, agimos, tomamos atitudes e temos alguns comportamentos que refletem noutros, emanam consequências, marcas. Esta folha não está marcada porque sofreu uma ação do copo de vinho derramado, mas porque estava logo abaixo, sofreu a consequência. Marcada. Como a vida!
LPortinho, Guayba, 8.abr.2006.