quinta-feira, junho 16, 2016

Vamos se ligar moçada!!!

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário


Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."

Bertold Brecht

El mejor recibimiento de la historia - Peñarol x Vélez - 2011

via IMPEDIMENTO

Por uma frente de esquerda

 * CYNARA MENEZES É JORNALISTA E EDITORA DO BLOG 
SOCIALISTA MORENA (www.socialistamorena.com.br)

É PRECISO aprender sempre, com as vitórias e com as derrotas. Caia ou não Dilma Rousseff do governo federal e, com ela, o Partido dos Trabalhadores, a esquerda brasileira não pode deixar de aproveitar o momento para se rever, se questionar e se reconstruir. Seja qual for o quadro que se desenhe daqui para frente, não saímos derrotados. As ruas estão aí para provar o contrário: vermelhas, vivas, pulsantes. Contamos em nossas fileiras com uma juventude inteligente, vibrante, criativa, engajada, disposta a lutar por um futuro melhor para o País e para os menos afortunados. A certeza de estar do lado certo nos move a todos e não nos deixa abater. Dilma Rousseff representa a dignidade, a honra e a honestidade na política. O mesmo não pode ser dito dos que a substituirão, caso o golpe se concretize. A presidenta sairá desta batalha maior do que entrou. Na verdade, os golpistas conseguiram a façanha de nos fazer gostar mais de Dilma do que antes.

Um dos aprendizados que tiramos deste episódio, em minha opinião, é que a aliança com a direita pode até render frutos imediatos. Mas, no longo prazo, cobra a fatura e se desmancha, porque é inconsistente, porosa, oca. É uma aliança de ocasião. Precisamos construir alianças que durem o tempo que for necessário, alianças para o futuro. E que demore o tempo que for preciso para que elas sejam construídas. Sem estas alianças firmes, duradouras, é impossível para a esquerda governar, no Brasil e na América Latina como um todo.

O PT conseguiu 137 votos contra o impeachment. Este, pelo visto, é o atual limite da centro-esquerda dentro de uma Câmara com 513 deputados. O nível dos demais, todos vimos pela TV: despreparados, fisiológicos, intolerantes e de um provincianismo atroz. Não é possível pensar que o País possa avançar com um legislativo assim. A saída para esta sinuca é uma frente progressista, como fez o Uruguai, o único governo de esquerda na América do Sul que não é alvo de ameaças de golpes “constitucionais”, justamente porque possui uma maioria. Como os uruguaios conquistaram isso?

Para começo de conversa, não foi de uma hora para outra. A Frente Ampla surgiu em 1971, reunindo todas as forças progressistas do Uruguai, inclusive dissidentes dos partidos Blanco e Colorado. Só foram ganhar a primeira eleição para a presidência 33 anos depois, em 2004, com Tabaré Vázquez. Em 2009 seria eleito José “Pepe” Mujica, e em 2014 novamente Vázquez. Outra coisa que podíamos copiar: no Uruguai não existe reeleição e o mandato é de cinco anos. O PT já pensou assim, até chegar ao poder...

Com uma sólida base de apoio no Congresso, a Frente Ampla pôde conquistar o impensável, sobretudo no governo Mujica: aprovou o direito ao aborto, legalizou, de forma pioneira no mundo, a maconha e também o casamento gay. Diante da maioria, as parcelas mais conservadoras da sociedade uruguaia tiveram que ficar caladas e aceitar. A mídia fez oposição, principalmente à descriminalização da maconha, mas de nada adiantou. Uma situação diametralmente oposta à nossa, onde o PT nos últimos anos foi derrotado em quase tudo, e tem perdido também o debate em significativas parcelas da sociedade.

Juntos na Frente Ampla estão o partido Comunista, o partido Socialista, a Aliança Progressista, o Partido Operário Revolucionário, o Partido Socialista dos Trabalhadores e outros grupos de esquerda. Há, dentro da frente, desde marxistas até liberais e democratas cristãos. Sim, não é fácil aglutinar tantas forças díspares entre si. Mas, no fundo, desejamos todos a mesma coisa e é preciso ser sábio – ou a direita vai nos engolir.
Após o impeachment passar no plenário da Câmara, alguns movimentos já começam a ser notados, como o de setores do PT falando em reunir forças de esquerda na candidatura à prefeitura do Rio. Há males que vêm para bem: antes da derrota, o PT cogitava apoiar o candidato do atual prefeito Eduardo Paes, um sujeito acusado de bater na mulher. Foi preciso que Pedro Paulo (PMDB/RJ) votasse em favor do impeachment para que o PT se desse conta que este tipo de aliança não tem mais sentido e falasse em se unir ao PSol, ao PCdoB e ao PDT nas eleições cariocas.

Espero que as lideranças petistas possam ser humildes para estender a mão aos setores de esquerda que desprezaram desde que chegaram ao poder. E espero que os setores de esquerda mais radicais aceitem a mão estendida e entendam que é devagar que se vai ao longe. É preciso, para ambos os lados, pôr a cabeça no lugar. Mas que o PT deve desculpas ao PSol, isso deve. Dizem que Lula nunca teria chegado ao poder se não tivesse aberto mão da esquerda do partido e abraçado a realpolitik. Será? Nunca saberemos. O fato é que, na hora em que mais precisou do povo a seu lado, foram seus ex-companheiros psolistas os mais aguerridos.

Não dá para fazer tantas concessões. A esquerda cresce quando confronta. Lula conciliou, conciliou, conciliou e, agora que é um septuagenário, está tendo que confrontar. Acho que a maior lição que fica desta história toda é que não dá para existir uma força de esquerda sólida sem nos juntarmos todos. E isso leva tempo. A pressa é inimiga da perfeição, diz o adágio popular. E é também inimiga da construção de uma esquerda duradoura, com futuro garantido e com conquistas cada vez mais avançadas, ousadas e abrangentes. A luta continua.