terça-feira, fevereiro 12, 2008

VITÓRIA DA ARTE

publicada no jornal O GLOBO, em 22/06/1970

CIDADE DO MÉXICO - Antes de mais nada, quero dizer que a vitória extraordinária do Brasil foi a vitória do futebol. Do futebol que o Brasil joga, sem copiar de ninguém, fazendo da arte de seus jogadores a sua força maior e impondo ao mundo futebolístico o seu padrão, que não precisa seguir esquemas dos outros, pois tem sua personalidade, a sua filosofia e jamais deverá sair dela. Foi uma vitória do futebol. O futebol que nós gostamos de ver e aplaudir e que o mundo ontem teve que se curvar. Em segundo lugar vou fazer uma série de cobrantinas. Cobrantina de quem disse que o Brito não sabia nem amortecer a bola. Cobratina de quem disse que o Brasil não tinha ponta-direita, ou que o Jair não era ponta-direita nem no Botafogo. Hoje está aí o Jairzinho, consagrado com o melhor ponta-direita da Taça do Mundo. Cobrantina de quem disse que o Tostão e Pelé não podiam jogar juntos. E poderia ir por aí afora, fazendo uma série de cobrantinas, mas o dia é de alegria. É de vibração e confesso que estou emocionado. Esta equipe do Brasil, que marca 41 "goals" e sofre apenas 9 tentos na sua campanha no Mundial, contando com os jogos das eliminatórias, é uma seleção. É um timaço de futebol, que adquiriu consistência em suas linhas, sem que lhe roubasse o seu estilo, a sua característica, e aí uma das principais razões do sucesso. É justa a nossa vibração e a minha, em particular, é pela vitória da arte, que continua sendo, dentre as mais variadas concepções do futebol moderno, a verdadeira razão de se encherem os estádios e a identificação mais sólida e decisiva do futebol do Brasil." (João Saldanha)




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