42 ANOS DA MORTE DE CHE GUEVARA
"NÃO EXISTE EXPERIÊNCIA MAIS PROFUNDA PARA O REVOLUCIONÁRIO DE QUE O ATO DA GUERRA"
Tristeza na morte de um herói
* Por Pablo Neruda
"Nós que vivemos esta história
esta morte e ressureição
de nossa esperança enlutada,
os que escolhemos o combate
e vimos crescer as bandeiras
soubemos que os mais calados
foram os nossos únicos heróis
e que depois das vitórias
chegaram vociferantes
a boca cheia de jactância
e de proezas salivares.
O povo moveu a cabeça;
e voltou o herói ao seu silêncio
Mas o silêncio se cobriu de luto
até afogar-nos nesse luto
quando morria nas montanhas
o fogo ilustre de Guevara
O comandante terminou
assassinado num barranco
Ninguém abriu a boca.
Ninguém chorou nos povoados índios.
Ninguém subiu às torres das igrejas.
Ninguém levantou fuzis,
e cobraram a recompensa
aqueles a quem veio salvar
o comandante assassinado
O que houve, medita o pesaroso,
com estes acontecimentos?
E não se diz a verdade
Porém se cobre com papel
esta desgraça de metal.
Mal se abrira o roteiro
como um machado que caiu
na cisterna do silêncio.
Bolívia voltou ao seu rancor,
a seus enferrujados gorilas,
à sua miséria intransigente,
e como bruxos assustados
os sargentos da desonra,
os generaizinhos do crime
esconderam com eficiência
o cadáver do guerrilheiro,
como se o morto os queimasse.
A selva amarga engoliu
os movimentos, os caminhos,
e onde passaram os pés
da milícia exterminada
hoje os cipós aconselharam
uma voz verde de raízes
e o veado selvagem voltou
à folhagem sem estampidos."