terça-feira, março 02, 2010

BRANCAS NOITES...

“Era uma noite maravilhosa, uma noite tal como só é possível quando somos jovens, caro leitor. O céu estava tão estrelado, um céu tão luminoso, que ao olhá-lo seríamos obrigados a nos perguntar infalivelmente: como pode viver sob um céu assim toda sorte de gente irritadiça e caprichosa? Esse também é um questionamento de quem é jovem, caro leitor, muito jovem, mas que Deus o possa inspirer-lhe muitas vezes!... Falando sobre toda sorte de senhores irritadiços e caprichosos, eu não podia deixar de recorder minha boa conduta durante todo aquele dia. Desde bem cedo começou a me afligir uma tristeza singular. Pareceu-me de repente que todos se afastavam de mim. Claro, qualquer um teria o direito de perguntar: mas quem são esses todos? Porque já faz oito anos que moro em Petersburgo, e não consegui estabelecer quase nenhuma relação. Mas para quê preciso de relações ? Eu já conheço toda Petersburgo sem isso; aí está por que me parecia que todos me abandonavam quando toda Petersburgo se levantou e partiu para o campo. Comecei a ter medo de ficar sozinho e vaguei durante três dias inteiros pela cidade numa tristeza profunda, sem entender absolutamente o que se passava comigo.” (Fiódor Dostoiévski, primeiras linhas de “NOITES BRANCAS”)

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