quarta-feira, abril 02, 2008

TIO ANASTÁCIO

Entre a ponte e o lajeado,

na venda do Bonifácio,

conheci o Tio Anastácio,

negro velho, já tordilho.

Diz que mui quebra em potrilho,

hoje pobre, despilchado,

de tirador remendado,

num petiço doradilho.

Quem visse o tio Anastácio,

num bolicho de campanha,

golpeando um trago de canha,

oitavado no balcão,

tinha bem logo a impressão,

que aquele mulato sério,

era o rio grande gaudério,

fugindo da evolução

A tropilha dos invernos

tinha lhe dado estafa.

E aquela meia garrafa dentro,

do cano da bota,

contava a história remota

do negro velho curtido

que os anos tinham vencido

sem diminuir na derrota

Mulato criado guacho,

nos tempos da escravatura,

aquela estranha figura

na vida passara tudo.

Ginetaço macanudo

que desde o primeiro berro

saia trançando o ferro,

no potro mais ´cormilhudo´

Carneava uma res num upa,

com toda arte e perícia,

reservado e sem malícia,

bem quisto na vizinhança,

dava gosto em rodeios,

de pingo alçado no freio,

laçando de toda trança.

Ficou sendo um desses índios

que se encontra nos galpões

e ao redor dos fogões

fala aos moços com paciência

do que aprendeu na existência,

ao longo dos corredores,

alegrias, dissabores,

curtidos pela experiência.

Tio Anastácio p´ra aqui.

Tio Anastácio p´ra lá.

Mandado o mesmo que piá

por aquela redondeza.

Nos remendos da pobreza

entrava e passava inverno:

como um tronco, só no cerne;

pelegueando a natureza

Por isso é que nos bolichos

só se alegrava bebendo;

como se cada remendo da roupa velha gaudéria

fosse uma sangria a sério,

por onde o sangue do pago se esvaísse,

trago a trago,

por ver tamanha miséria.

E até parece mentira,

negro velho de valor,

morreste no corredor,

como um matungo sem dono;

não tendo neste abandono

ao menos um companheiro

que te estendesse o baicheiro

para o derradeiro sono

E agora que estás vivendo na Estância Grande do céu,

engraxando algum soveu,

para o patrão velho buenacho,

não te esquece aqui debaixo,

aonde a lo largo ainda existe tanto xiru velho e triste.

Como tu criado guacho.

Como tu, tio anastácio. (Jayme Caetano Braun)

Um comentário:

Anônimo disse...

esta faltando versos nesta declamação