segunda-feira, setembro 20, 2010

FARRAPO


"Esse nome, criado pelo desprezo, foi nobilitado pela glória; a inevitável glória da justiça do Tempo transformou o epíteto injurioso em título de suprema honra. Eram desgraçados, sim, eram pobres, eram maltrapilhos, aqueles guerreiros que, para não morrer de fome, contentavam-se com um bocado de carne crua; acampavam e dormiam ao relento, com a face voltada para as estrelas; não tinham dinheiro, nem uniforme, e não podiam renovar as botas e os ponchos que o pó da estrada, as balas, as cutiladas, as chuvas estraçalhavam e apodreciam; - mas prezavam o seu nome de “Farrapos”, e tinham o orgulho da sua pobreza; - e eram mais ricos assim, possuindo apenas o seu cavalo, a sua garrucha, a sua lança e a sua bravura...Cenobitas da religião cívica, anacoretas da guerra, vivendo no imenso e fúlgido ascetério do pampa, esses primeiros criadores da nossa liberdade política não olhavam para si: olhavam para a estepe infinita que os cercava, para o infinito do céu que os cobria, - e nesses dois infinitos viam dilatar-se, irradiar e vencer no ar livre o seu grande ideal de justiça e de fraternidade." OLAVO BILAC

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