Fui ouvir um disco da Mercedes Sosa que comprei na Argentina. Tocou a música “Sina” – essa mesma, de autoria do Djavan. Coloquei o disco a tocar enquanto fazia outras coisas, mas parei assim que começou a cantar os primeiros versos da música, com sua voz incomparável. O que me chamou a atenção foi o fato de ela cantar em português, ou melhor, se esforçar para preservar intacta a letra do Djavan, sem adaptá-la para o espanhol. Fiquei ali sentado, perto do som, curtindo “La Negra” e os pensamentos brotaram instantaneamente. Lembrei da noite espetacular que tive no Uruguai, quando já traçava o caminho de volta para casa, en la playa de Valizas. Ali tive um céu totalmente estrelado, com tantas estrelas que não pude sequer cogitar de iniciar contagem; as marias nunca estiveram tão nítidas para mim. O escuro da noite sem claridades nos deu o calor do fogo de chão, regado a assado e tragos de “cinco raices”; e deu muita música. Diversas pessoas novas em minha vida, com experiências de vida fantásticas a me contar; e à volta do fogo as guitarras começaram a soar, tangos e milongas. Até que “los guitarreros” resolveram puxar Titãs, Cassia Eller, Paralamas do Sucesso e até Jorge Ben, tudo preservado em nossa língua mãe. E foi disso que lembrei quando Mercedes começou a cantar “Sina”, porque naquele dia senti um orgulho tremendo de estar ali ouvindo amigos uruguaios se esforçando para cantar em português; eles não cantavam por mim, mas porque são internacionais. Os grandes artistas e as grandes pessoas são internacionais. São pessoas que não perdem ou se desfazem de suas tradições reconhecendo a cultura e os valores dos outros; pelo contrário, quanto mais o fazem, mais fortes são suas raízes. O que percebi naquela noite foi o quão importante é para as pessoas que seja dado valor às suas idéias, anseios, valores, tradições, costumes, vidas.
sexta-feira, julho 10, 2009
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