sábado, fevereiro 28, 2009

MERDA DE DIA

OUTRO TEXTO DA SÉRIE "ANTIGOS ESCRITOS":

O dia estava mais quente do que nunca.
Acordou tarde e olhou o céu azul pela janela. Sentiu que já acordara com o dia perdido. Atendeu o telefone, que tocava há mais de meia hora:

- Tchê, colé a tua ?
- Colé a tua o que fiadasputa ?
- Até aonde vais levar essa tua omissão ?!
- Tchê, não enche o saco!!! Vai tomar no teu cu...
- Vamos tomar um mate ?!
- Que horas são ?
- Putaquiuspariu, em que mundo tu vive meu ?! Três e meia!
- Tá, daqui a 15 minutos no Parcão.
- Combinado.
- Abraço.

Desligou e ficou mais dois minutos na cama, mas não conseguiu pensar em nada. Foi ao banheiro e não se reconheceu ao olhar no espelho. Mijou, passou uma água no rosto e escovou os dentes. Vestiu a bermuda que estava sobre a poltrona; colocou uma camisa, calçou o tênis e procurou a chave do carro antes de bater a porta de casa. Desceu, saiu do elevador e deu de cara com o porteiro, Délcio:

- E ai, foi longa a noite hein ?
- Tchê, a Marta já saiu ?
- Não, tá em casa, quer que eu ligue ?! Tá sozinha!
- Tô saindo. E teu time, cagaião ?!
- Ehehehehe! Tá bem né, final domingo.
- Ahahahah!!! Te prepara, vocês tão fudido!

E saiu pela porta rindo, enquanto o porteiro gritava lá de dentro: Marcelinho, Marcelinho... Ligou o carro e saiu cantando pneu. Não gostava daquilo, mas o carro sempre arrancava assim quando estava frio. Chegou no parque quarenta minutos depois que desligou o telefone. Estacionou, saiu do carro e, depois de trocar um ou com Paula, que saia do prédio, sentou na mureta. Apertou a mão dos convivas e recebeu a cuia. Sorveu o mate e pensou: "mas que merda de dia!!!"

escrito em 16.junho.2001, em Florianópolis, com barulho de chuva caindo na rua.

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