Lá no manicômio São Pedro foi uma lição. Porque lá era pior que cadeia. Fiquei um ano lá dentro. Os caras vinham para cima de ti e tu tinha de aprender a se virar, a se defender. Porque lá só tem gente do pior tipo, e tu nunca sabe o que se passa na cabeça. Eu nunca fui de briga, aí tive de aprender a me virar.
Eu conheci o José, um sujeito “clarinho”. O José era magro que nem eu. As irmãs nos respeitavam, porque agente ajudava muito a organizar tudo lá dentro. Eu e o José éramos “cotados” lá dentro; agente capinava, trabalhava no jardim; de vez em quando agente até tinha uns “privilégios” de comer lá dentro da cozinha com as irmãs. Agente era “cotado”.
Um dia apareceu um cara lá que era “deste tamanho” (imitando um gorila apresentando seus músculos). Era um bugre “deste tamanho”! E ficava parado sempre no mesmo lugar. Era tipo um corredor, aonde todo mundo tinha de passar. E o bugre parava bem ali (sobe num caixote de frutas e imita o bugre parado como um gorila). Todo mundo tinha de passar por ali. E quando os caras passavam ele agarrava pelos cabelos e dava um murro no sujeito.
Mas para jantar agente tinha de passar por ali. Aí eu chamei o José e disse:
- Zé, nós vamos passar por ali.
- Mas será Adão ?
- Vamo! Escuta, eu vou primeiro e tu fica me olhando. Depois é só tu fazer igual.
E eu tinha estudado bem o caso. Eu ficava olhando aquilo. Os caras passavam e o tal bugre pegava todos pelo cabelo e dava um murro. Mas eu percebi que era só quando eles encaravam o cara. Então a minha “estratégia” era passar devagar, bem tranqüilo, olhando para frente, sem virar o olho para o lado (nesse momento o Seu Adão simula a caminhada). E eu passei! (dando um grito e se rindo todo). E depois o José passou do mesmo jeito (e nesse momento simula o Zé, caindo na risada já no meio da caminhada).
Eu tinha estudado a situação. A estratégia era andar sem olhar para o lado, não encarar o cara, diz o Seu Adão, gritando com a voz esganiçada pelo riso e dando um tapa no meu braço.
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