quarta-feira, julho 28, 2010

A VIDA COMO ELA É...

Comprei o DVD "A Vida como Ela É", com episódios produzidos pela Rede Globo baseados nos contos de Nelson Gonçalves publicados durante anos no Jornal O Dia. E fui gratamente surpreendido ao acessar a Seção de Extras do DVD. Ali está uma entrevista primoroza concedida por Nelson a Otto Lara Resende. Transcrevo aqui algumas das passagens:

“O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho. Aponte um líder de dezessete, dezoito, dezenove ou vinte anos. O único líder juvenil que eu conheço é o Mao Tse Tung. O jovem só tem graça quando é moleque. Aos dezoito anos o sujeito não sabe como se diz a uma mulher boa noite.”

“A idade é uma solução formidável. A razão é um lento, laborioso, dilacerado, uma conquista espiritual. Isso é a razão. Uma conquista espiritual que o sujeito leva meio século para ter. Não se improvisa razão, não existe isso.”

“Quem não foi derrotado nunca é uma besta. Ou então é Napoleão de hospício, é o único imbatível. Porque o fato de ser Napoleão não quer dizer que um medíocre como era Wellington não possa ganhar as batalhas. O Wellington não podia amarrar os sapatos do Napoleão.”

“Quem ganha na vida ? É o cretino fundamental. Ponha o cretino fundamental encima desta mesa, ou de um caixote de querosene jacaré; e você manda ele falar; ele dá um berro e imediatamente milhares de cretinos fundamentais se organizam, se arregimentam, se aglutinam.”

“Qual é o maior acontecimento do século XX ? É a rebelião de cretinos fundamentais. Antes, o cretino fundamental raspava as paredes de sua humildade e na consciência de sua inépcia... Mas, agora, conseguiram finalmente pela superioridade numérica – porque para um gênio há dez milhões de imbecis.”

“NR - Você conhece alguma grã-fina de narinas de cadáver ? Olha a prudência mineira... Afasta a prudência mineira.
OLR – Eu conheço várias. Você quer que eu cite em ordem alfabética ?
NR – Não, na ordem alfabética não. Isso seria cruel, Otto.
OLR – É claro! Mas a gente conhece, claro.
NR – Mas no elevador do Mário Filho, eu fui com uma grã-fina das narinas de cadáver.
OLR – Como é que você descobriu, foi assim de repente ?
NR – Não, não foi de repente não. Ela tem narinas de cadáver, essa santa senhora...
OLR – Mas é em função de operação plástica ?
NR – Não, não.
OLR – Essas narinas são artificiais ?
NR – Essa não ofende e nem desconfia das narinas de cadáver... Ela pensa que tem um nariz de Cleópatra, se é que Cleópatra tinha nariz...
OLR – A Cleópatra tinha nariz, mas não de...
NR – Do qual dependeu a sorte de culturas e civilizações...
OLR – Sim, porque se o nariz de Cléopatra fosse um pouco menor, a sorte do mundo seria outra, né ?
NR – Seria outra. Se fosse um pouco maior, seria outra. E assim sucessivamente.
OLR – Você atribui a grã-fina, não é só a expressão, mas você atribui à grã-fina das narinas de cadáver uma série de lugares comuns... Ela tem uma atitude, digamos, aberta, para frente...
NR – Me diga uma coisa Otto, você nunca viu o desprezo de uma grã-fina pelo Brasil ? Uma delas me dizia: “O Brasil é um país de quinta ordem”. Compreendeu ? Então, eu quase lhe disse – não lhe disse porque eu sou um tímido – “por que a senhora não vai lavar um bom tanque ? “. Mas quem disse isso foi um chofer de ônibus que uma grã-fina fechou... Ele disse: “VAI LAVAR UM BOM TANQUE!”. E a grã-fina ficou numa impassibilidade total.

“Eu sou um cristão; profundamente cristão. Mas eu só entro em igreja vazia. Na minha opinião, os crentes e os padres estragam a missa.”

“A maior leviandade é o beijo na boca. O sujeito só devia beijar uma única mulher em toda sua vida. E caso não aparecesse a mulher amada, não beijar. Simplesmente não beijar”

“O sexo atrapalha o amor. O amor ou é eterno ou não é amor. O homem de hoje; a mulher de hoje não leva isso a sério.”

“O que eu teria a dizer aos jovens, de ambos os sexos, é o seguinte: envelheçam depressa, envelheçam, com toda urgência, envelheçam.”

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