* Texto de Bagre Fagundes
Há muitos anos, quando nosso tradicional rival nos ganhava alguma partida, meu filho caçula, o Paulo, me surpreendeu com uma conversinha pra boi dormir que quase me levou à loucura. Essa situação vale a pena registrar como exemplo para alguns colorados que, ou se deixam desmoralizar, ou já nasceram desmoralizados mesmo.
Vejam só que papinho mais desqualificado! Era meio-dia, e todos da casa estavam à mesa para o almoço: "Pai, eu não posso ser do Grêmio?"
Pego de surpresa por uma pergunta de tamanha brutalidade, confesso que precisei refletir alguns segundos, alinhar meu pensamento, para depois responder: "Eu me recuso a responder a tua pergunta sem que tu me expliques de onde tiraste tamanha besteira. Ora, onde já se viu um filho meu gremista?"
E o gurizito, que na época tinha uns sete anos mais ou menos, olhando para o aparelho de televisão, que estava ligado e mostrava um vídeo de mais uma derrota colorada e mais uma vitória do Grêmio, respondeu: "É por isso aí, pai! O Grêmio sempre ganha, e nós perdemos sempre! É por isso que eu quero ser do Grêmio! E tem mais: na minha aula eu sou o único colorado..."
Mesmo diante de todas as evidências, pela minha condição de 'chefe da casa', não me dei por vencido e contra-argumentei: "Eu nunca mentiria para um filho, especialmente, o meu mais moço, o meu caçula. É claro que, se for tua vontade, como parece ser, tu podes torcer para o Grêmio. Entretanto, antes da tua decisão final, quero te esclarecer alguns detalhes. Primeiro: tu sabes que a tua mãe é colorada; segundo, tu sabes, também, que os teus dois irmãos mais velhos são torcedores do Internacional e que a tua irmã também é colorada; tu sabes que a tua irmã de criação é do Inter e que até o Veludo - nosso cachorro - é nosso companheiro de clube. Especialmente, tu sabes muito bem que eu, teu pai, sou torcedor do Internacional. Finalmente, tu sabes que o Grêmio é o nosso maior adversário e está contra nós em todas as oportunidades, certo?" Diante da resposta afirmativa do meu filho, eu botei na mesa a última cartada: "Tu queres ficar contra todos nós?"
Qualquer psicóloga dessas modernas, que não entendem o que é para um pai colorado ter, em sua própria casa, um adversário gremista, sendo ele seu próprio filho, diria que eu não tinha o direito de tirar a liberdade de opinião do meu guri. Mas, para mim, não há mais problema. O meu filho caçula, Paulinho Fagundes, hoje um guitarrista famoso e meu parceiro de estrada e de palco, é mais colorado do que eu, como sua mãe, sua irmã e seus irmãos Ernesto Fagundes e Neto Fagundes. É um grande filho esse Paulinho!
* Bagre Fagundes é músico regionalista.
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