"Eu sou um cara magnânimo e bacana, apesar de genial.
Nada tenho contra Michel Teló.
Até dançaria essa sua musiquinha rastaquera até encostar o traseiro no chão.
Sou chinelo. Adoro chinelagem.
Sou como o mundo.
Vivo a era da globalização da chinelagem.
Adoro funk, que é chinelagem pura.
Gosto de um bom pagode chinelo.
Não dispenso um rock chinelo.
Até tradicionalismo chinelo eu ouço, em doses comedidas.
Vejo até a chinelagem do CQC.
Aquele humor adolescente gênero MTV durante a perda do cérebro.
Sou da mídia.
E a mídia é uma máquina de produção universal de chinelagem.
Fim de ano é a glória.
Vai de Luan Santana, passando por Paula Fernandez, a Michel Teló.
só chinelagem.
É o que o nosso imaginário alcança.
Só isso?
Alguns alcançam um pouqinho mais.
É raro.
Eu não alcanço.
A maioria tem o imaginário à altura das havaianas.
Eu também.
Michel Teló é baixaria total.
Que que tem, meu bem?
Nada.
Bacana mesmo é o pessoal brabinho: respeita o gosto dos outros.
Ou a filosofia Lyons Club tipo crítica construtiva: não gosta, não ouve, mas não fala mal.
Crítica construtiva é a maior babaquice já inventada.
Precisamos dar nome aos bois.
Michel Teló e essa musiquinha feita por seus parceiros é divertimento barato.
O cara pode ouvir, curtir, amar, mas continua sendo chinelagem.
Eu não vou ao teatro ouvir música de gravata.
Tenho certeza de que Beethoven não teria talento para emplacar “Ai se eu te pego”.
Cada um no seu quadrado.
Só que o pessoal quer legitimação.
Quer curtir a sua chinelagem sem ouvir crítica.
Gosto é o que mais se discute.
A crítica é livre.
Ouve quem quer, crítica quem pode e sente vontade.
Eu adoro as ofensas com beicinho: quem é você para falar mal do Teló, que vende horrores.
Claro que tem gente que critica só para fazer pose de intelectual.
Eu faço isso. E quem sou eu para fazer isso?
Eu sou ninguém.
Como diria o poeta, não serei nada.
Por isso, claro, tenho todas as liberdades do mundo.
Tem o cara que reclama da generalização.
Todo cara que fala em generalização é mala.
Quer defender o seu particularzinho.
Essa musiquina do Teló está abaixo do traseiro do cusco.
Mas que ritmo.
Não consigo parar de dançar.
Vai rodar na minha festa de aniversário de 50 anos." (Juremir Machado - Correio do Povo)
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