“Simplesmente saí dali e peguei a rua atrás daquela mulher. Estava a mais de uma dúzia de passos a minha frente, caminhando apressadamente para a beira do cais. Eu realmente não sabia que a estava seguindo. Quando percebi, parei de repente e estalei os dedos. Oh! Então agora és um pervertido! Um pervertido sexual! Muito bem, muito bem, Bandini, não imaginava que fosse chegar a isso; estou surpreso! Eu hesitei, arrancando grandes lascas de unha do meu polegar e as cuspindo. Mas não queria pensar naquilo. Preferia pensar nela.
Não era graciosa. Sei jeito de andar era teimoso, bruto; caminhava como que desafiadoramente, por assim dizer, eu os desafio a interromperem a minha caminhada! Caminhava em ziguezague também, movendo-se de um lado da calçada até o outro, às vezes pisando no meio-fio e às vezes batendo contra as janelas de vidro laminado a sua esquerda. Mas não importa como andasse, a figura debaixo do velho casaco púrpura ondulava e serpenteava. Seu passo era longo e pesado. Eu mantinha a distância original que ela guardava entre nós.
Sentia-me num frenesi; delirante e impossivelemente feliz. Havia aquele cheiro do mar, a suavidade limpa e salgada do ar, a indiferença fria e cínica das estrelas, a intimidade súbita e sorridente das ruas, a opulência brônzea da luz na escuridão, o langor cintilante da meia-lua. Eu amava tudo aquilo. Tinha vontade de gritar, de fazer ruídos esquisitos, ruídos novos, na minha garganta. Era como caminhar nu através de um vale cercado de belas garotas por todos os lados.” (John FANTE – “A Caminho de Los Angeles”).
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