quinta-feira, outubro 08, 2009




42 ANOS DA MORTE DE CHE GUEVARA


"NÃO EXISTE EXPERIÊNCIA MAIS PROFUNDA PARA O REVOLUCIONÁRIO DE QUE O ATO DA GUERRA"


Tristeza na morte de um herói


* Por Pablo Neruda


"Nós que vivemos esta história

esta morte e ressureição

de nossa esperança enlutada,

os que escolhemos o combate

e vimos crescer as bandeiras

soubemos que os mais calados

foram os nossos únicos heróis

e que depois das vitórias

chegaram vociferantes

a boca cheia de jactância

e de proezas salivares.


O povo moveu a cabeça;

e voltou o herói ao seu silêncio


Mas o silêncio se cobriu de luto

até afogar-nos nesse luto

quando morria nas montanhas

o fogo ilustre de Guevara


O comandante terminou

assassinado num barranco

Ninguém abriu a boca.

Ninguém chorou nos povoados índios.


Ninguém subiu às torres das igrejas.

Ninguém levantou fuzis,

e cobraram a recompensa

aqueles a quem veio salvar

o comandante assassinado


O que houve, medita o pesaroso,

com estes acontecimentos?


E não se diz a verdade

Porém se cobre com papel

esta desgraça de metal.

Mal se abrira o roteiro

como um machado que caiu

na cisterna do silêncio.


Bolívia voltou ao seu rancor,

a seus enferrujados gorilas,

à sua miséria intransigente,

e como bruxos assustados


os sargentos da desonra,

os generaizinhos do crime

esconderam com eficiência

o cadáver do guerrilheiro,

como se o morto os queimasse.


A selva amarga engoliu

os movimentos, os caminhos,

e onde passaram os pés

da milícia exterminada

hoje os cipós aconselharam

uma voz verde de raízes

e o veado selvagem voltou

à folhagem sem estampidos."

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