* Por Moisés Mendes
O manifesto contra o “autoritarismo jurídico”, assinado por intelectuais de várias áreas, não vai sair nem em canto de página dos jornais impressos. Nem na versão online. Jornais não querem saber de manifestos.
O que o próprio manifesto revela é que mais uma denúncia dos exageros das instituições, que têm atuado politicamente sempre contra os mesmos alvos, talvez não resulte em nada.
Porque só seus autores e outros poucos se rebelam, mesmo que em manifestos, contra a ação seletiva da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário. O país vai sendo anestesiado pelo golpe.
Paulo Sergio Pinheiro, Wanderley Guilherme dos Santos, José Miguel Wisnik, Saturnino Braga, Alfredo Bosi, Frei Beto, Jurandir Freire Costa, Bresser Pereira e outros serão ouvidos por nós, por quem agora me lê e pelos que pensam como eles.
Os que apoiam o golpe, o show do Ministério Público, as regras da masmorra de Curitiba e o “legalismo” do juiz Sergio Moro não querem saber de manifestos. Eles querem levar o golpe adiante.
A sensação geral é de que até manifestos perderam força e sentido no ambiente do fascismo institucionalizado versão século 21. Fazer o quê?
Talvez agir nas nossas rotinas, além do retórico, e criar impasses que quebrem silêncios e mesmices no espaço de trabalho, na atividade de cada um. Imagino o dia em que tivermos gestos fortes, além de palavras.
O dia em que um grupo puxará uma universidade inteira para uma tarde de reflexão sobre o golpe. Parar as universidades por uma tarde. Será que param?
Imagino também a tarde em que alguns terão o peito de pedir que uma redação de jornal pare. Por uma ou duas horas. E que a redação discuta o golpe, os exageros das instituições e a contaminação das próprias redações pelo golpismo.. Será que param?
Ah, o tempo em que uma redação parava. Se uma redação não para, o que pode ser parado? Se intelectuais largam notas, mas a maioria dos colegas está resignada com o golpe, fazer o quê?
Param por salários, por melhores condições de trabalho, mas não param por ideias?
Talvez o país já esteja aceitando a República de Curitiba e a República do Jaburu, com Padilha, Moreira Franco, Serra, Geddel e esse estranho ministro da Justiça como parte da nossa normalidade.
Falta algo mais do que manifestos. O golpe é mais forte do que se pensava, ou todos nós somos mais fracos até do que eles pensavam que fôssemos.
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