quinta-feira, fevereiro 25, 2010

JOHN LENNON


“Com John estava tudo bem. Era considerado louco, talvez, mas não era violento. Enquanto a maioria de nós ainda estava no estágio médio da idade escolar, John Lennon era algo mais. Não era apenas considerado um delinqüente juvenil, mas tinha também uma tendência para causar tumultos, tudo em nome da angústia da arte. “Se você andar com esse John Lennon”, as mães – inclusive a minha – diziam, “vai arranjar problemas!”. Na verdade, todos provavelmente pensavam que John acabaria no instituto correicional de Borstal, ou mesmo na cadeia, e ele pouco fazia para melhorar sua imagem.
(...)
... John estava sempre fazendo alguma coisa e este era o motivo de nossa fascinação por ele. Ele era o rebelde que queríamos ser.
(...)... As vezes, ele falava em forma de enigmas, sua conversa era tortuosa e quase incompreensível, e quando estávamos totalmente confusos, ele ria e saía pela tangente ou dizia alguma coisa realmente inteligente, ou espirituosa, ou sarcástica. Nunca sabíamos se ele estava dizendo a verdade, e isso também nem importava. Ele era simplesmente hipnotizante.
(...)
... Ele se portava como um rebelde nato, mas acho que ele era bastante infeliz. Na verdade, ninguém conseguia se aproximar muito de John. Mesmo quando falava com as pessoas, havia uma sensação de isolamento, um ponto de ruptura além do qual não se podia ir, e não íamos mesmo.” (Tony Bramwell – “Magical Mystery Tours – Minha Vida com os Beatles)

DAS LEITURAS...

“Perdera a batalha contra a juventude e a primavera, e, com seu sofrimento, pagara um preço pelo pecado imperdoável da velhice – o de se recusar a morrer. Não se conformara em rumar para a treva sem primeiro se pôr à prova; o que ele quisera, no fim das contas, eera magoar seu velho coração. A luta, em si, tem um valor que supera a vitória ou a derrota, e aqueles três meses com Annie... agora lhe pertenciam para sempre.” (F. Scott Fitzgerald, “Na Sua Idade”)

MAIS UM POUCO DE LEITURAS...

“Adolfo, 83 años. Siempre vivió con mujeres. Todas se quieren casar con él y le sacan plata. De sus muchos años en Roma, los últimos los pasó con una condesa. Llegó el día en que, por la situación argentina, la madre le escribió para prevenirlo de que no podía mandarle la mensualidad habitual; tendría que reducirla a la mitad. Poco después volvió Adolfo: confesó que la condesa, después de leer la carta, lo mandó de vuelta, con lo puesto – su traje estaba muy raído -, sin un peso. Hará cosa de pocos años Adolfo tuvo que operarse de no sé qué… Su hermano se sorprendió de ver cómo lo atendían las amigas: con intimidad de enfermeras y verdadera devoción. Ahora volvieron a operarlo: de próstata, esta vez. Su hermano fue visitarlo a la mañana. En el cuarto, había dos camas. En una estaba Adolfo; en la otra, su amiga, de 83 años. Volvió al anochecer el hermano. Ahora la compañera era una mujer de treinta años. El hermano, que le administra el dinero y le pasa mensualidades considerables, le preguntó por qué a fin de mes siempre estaba tan corto de dinero. “Me lo sacan las amigas”, explicó Adolfo. Las deja, porque le basta con llegar al fin de mes sin mayores privaciones. “No tengo herederos, ni mucho futuro que digamos”, explica. Está acostumbrado a vivir con mujeres. Lo cuidan, lo acompañan. Todas tratan de casarse con él; en eso es irreductible. A veces lo cansan y hasta por momentos lo amargan, hablándole de su muerte, de la conveniencia de hacer cuanto antes un testamento que las favorezca y de poner desde ya cosas a su nombre; son momentos desagradables, pero pasajeros. No les guarda rencor. Si se acuerda, les dejará algo en el testamento, ¿ por qué no ¿ Al fin y al cabo, el hermano no necesita nada, ni va a vivir mucho más que él y no tiene hijos; el Estado, no es muy simpático, y las sociedades de beneficiencia vaya uno saber cómo están manejadas. Mejor dejar algo a esas mujeres que él conoce tanto y cuyas habilidades le hacen gracia y hasta lo conmueven: (Adolfo Bioy Casares – “Descanso de Caminantes – Diários Íntimos”)

E assim caminha...

a humanidade.

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Silas comparou um gNAL a um Brasil x Argentina, justificando sua felicidade em se livrar da peleia braba de enfrentar o Colorado na final do turno. Está certo o Sr. Silas, não ?
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Centro de Porto Alegre. Escavam um terreno nos fundos de uma casa. As paredes começam a rachar e em menos de dois dias desaba metade da casa. Ninguém ficou ferido no incidente.
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Entro no carro que está estacionado numa movimentada rua de bairro grã fino de Porto Alegre. Uma senhora encosta seu carro e fica aguardando eu sair da vaga. Uma louca encosta atrás desta senhora com seu veículo e começa a tocar a buzina sem parar. Quando estou iniciando o movimento de saída da vaga, a louca resolve finalmente contornar o carro que aguardava o local, sempre com a mão afundada na buzina. Ultrapassa o carro aos berros de "tu está ficando louca, tu está ficando louca ?"... Ao me ver saindo da vaga para seu carro e fica me olhando com sua cara de louca em surto, olhos arregalados. Assustador!
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Um grupo de cabeludos tocando viola e poses na Golden Gate Bridge. Férias de um bando de seres humanos criativos.
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Ligo a televisão. Ladrões furtam mantimentos e produtos de limpeza do restaurante popular que serve refeições a R$ 1,oo aqui em Porto Alegre. Foi a segunda vez em menos de 15 dias. Pior que isso só os políticos salafrários que desviaram verbas do programa de alimentação escolar.
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E assim caminha a humanidade...

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

VALEU MACACADA!


O Beira-Rio recebeu um público de aproximadamente 40 mil pessoas para a estreia na Libertadores. Não se pode considerar muito para quem convive com o Gigante há 3 décadas e já o vivenciou abarrotado com mais de 80 mil Colorados trepados pelas muretas da saudosa coréia. Mas o espetáculo da torcida foi digno de aplauso. Mais do que isso, digno de respeito e temor por parte dos adversários. O Beira Rio já é considerado um grande templo do futebol sudamericano. Até mesmo o Diário OLE, jornal especializado em notícias esportivas, e conhecido por trazer manchetes difamatórias contra o futebol brazuca, se curvou. Sob a manchete "Pression a la Bombonera", os "hermanos" lembraram que "en el Beira Río se hace sentir la localía, lo vivió Boca alguna vez, también Estudiantes en la final de la Sudamericana (ganó en los 90' y perdió en el suplementario).". A respeito de nossa torcida, anotaram os gringos que "el rigor de lo que es salir a esa cancha en la que los cantos se potencian y multiplican. Un lugar tan difícil como la Bomobonera, aunque con otra arquitectura, más circular y más bajo.".
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Não é necessário cantar em espanhol para se fazer respeitar pela América. A macacada mais uma vez se destacou pela tradição e participação direta na vitória. Ficou impossível ao EMELEC sustentar o resultado depois que começamos a entoar cânticos e empurrar nosso time. Os inimigos que se preparem, porque essa foi só a primeira batalha!

terça-feira, fevereiro 23, 2010

COLORADO

O GIGANTE TE ESPERA!

VAI COMEÇAR A FESTA...



RUMO AO BICAMPEONATO DA AMÉRICA...
TODOS OS CAMINHOS LEVAM SEMPRE AO GIGANTE DA BEIRA-RIO!

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Politicos falsos...

p'a Sarney, Arruda e toda corja de plantão...

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

FILHO MEU, GREMISTA ?



* Texto de Bagre Fagundes

Há muitos anos, quando nosso tradicional rival nos ganhava alguma partida, meu filho caçula, o Paulo, me surpreendeu com uma conversinha pra boi dormir que quase me levou à loucura. Essa situação vale a pena registrar como exemplo para alguns colorados que, ou se deixam desmoralizar, ou já nasceram desmoralizados mesmo.

Vejam só que papinho mais desqualificado! Era meio-dia, e todos da casa estavam à mesa para o almoço: "Pai, eu não posso ser do Grêmio?"

Pego de surpresa por uma pergunta de tamanha brutalidade, confesso que precisei refletir alguns segundos, alinhar meu pensamento, para depois responder: "Eu me recuso a responder a tua pergunta sem que tu me expliques de onde tiraste tamanha besteira. Ora, onde já se viu um filho meu gremista?"

E o gurizito, que na época tinha uns sete anos mais ou menos, olhando para o aparelho de televisão, que estava ligado e mostrava um vídeo de mais uma derrota colorada e mais uma vitória do Grêmio, respondeu: "É por isso aí, pai! O Grêmio sempre ganha, e nós perdemos sempre! É por isso que eu quero ser do Grêmio! E tem mais: na minha aula eu sou o único colorado..."

Mesmo diante de todas as evidências, pela minha condição de 'chefe da casa', não me dei por vencido e contra-argumentei: "Eu nunca mentiria para um filho, especialmente, o meu mais moço, o meu caçula. É claro que, se for tua vontade, como parece ser, tu podes torcer para o Grêmio. Entretanto, antes da tua decisão final, quero te esclarecer alguns detalhes. Primeiro: tu sabes que a tua mãe é colorada; segundo, tu sabes, também, que os teus dois irmãos mais velhos são torcedores do Internacional e que a tua irmã também é colorada; tu sabes que a tua irmã de criação é do Inter e que até o Veludo - nosso cachorro - é nosso companheiro de clube. Especialmente, tu sabes muito bem que eu, teu pai, sou torcedor do Internacional. Finalmente, tu sabes que o Grêmio é o nosso maior adversário e está contra nós em todas as oportunidades, certo?" Diante da resposta afirmativa do meu filho, eu botei na mesa a última cartada: "Tu queres ficar contra todos nós?"

Qualquer psicóloga dessas modernas, que não entendem o que é para um pai colorado ter, em sua própria casa, um adversário gremista, sendo ele seu próprio filho, diria que eu não tinha o direito de tirar a liberdade de opinião do meu guri. Mas, para mim, não há mais problema. O meu filho caçula, Paulinho Fagundes, hoje um guitarrista famoso e meu parceiro de estrada e de palco, é mais colorado do que eu, como sua mãe, sua irmã e seus irmãos Ernesto Fagundes e Neto Fagundes. É um grande filho esse Paulinho!

* Bagre Fagundes é músico regionalista.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

DRIVEN TO TEARS

vale a pena conferir....destaque para Stewart Coppland esmirilhando na batera... melhor baterista de todos os tempos!


quinta-feira, fevereiro 11, 2010

RUMO AO HEXA

Dunga fez a última convocação da seleção brasileira antes da derradeira chamada para o Mundial Sudafrica 2010. Ouso apostar que dentre os 22 convocados nesta lista, 19 estão com vaga garantida para a Copa. Apenas o zagueiro Thiago Silva, o lateral Michel Alves e o meia Kleberson estão submetidos a teste neste amistoso contra a Irlanda. Talvez o porteiro Doni também tenha sua última chance neste amistoso (mas acredito que nem deva ingressar na partida); é mais provável que Gomes e Victor sejam os companheiros de Julio Cesar para o arco.
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Mas não quero abordar nomes aqui. Há alguns dias amadurecia pensamentos a respeito de Dunga e da nova mentalidade que implantou na seleção brasileira. A imprensa brasileira, ao que parece, ainda não notou que Dunga mudou paradigmas em suas convocações. Substituiu a velha política de chamar os jogadores que atravessam melhor fase pela filosofia de contar com um grupo alinhado à sua mentalidade. Dunga sempre foi um atleta de grupo. São inúmeros os exemplos durante sua vitoriosa carreira em que deixou de lado suas ambições e projetos pessoais em favor das missões do grupo. O mais clássico foi a tarefa hercúlea de ser companheiro de quarto de Romário e velar pelo comportamento extra campo do "baixinho" na vitoriosa campanha da Copa-94.

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Pois é isso que Dunga oferece em 2010. Uma seleção que mais parece um time de futebol quando entra em campo. É a primeira vez em décadas que se sabe perfeitamente a escalação da equipe do 1 ao 11, um semestre antes da primeira partida da Copa. Não há discussões a respeito do time. Aliás, o time, em sistema, é exatamente o mesmo que venceu a Copa América 2007, na primeira grande campanha dessa nova Era. E em nomes, na essência, não mudou também.

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Por isso, tenho convicção de que voltaremos da África com a Taça do Mundo. O que muitos criticam é exatamente o que aplaudo. As individualidades e os craques de safra ficarão assistindo a Copa do Mundo pela televisão, enquanto Dunga e aqueles que resolveram seguir sua filosofia de respeito à camisa canarinho batalharão nos campos africanos defendendo nossas cores.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Ponto de Equilíbrio

“bar perto da estação rodoviária, mudou de dono 6 vezes num ano. começou como inferninho de strip-tease. Foi passando de mão em mão, primeiro pra um chinês, depois pra um mexicano, pra um aleijado, ou vice-versa, sei lá, só sei que gostava de ficar lá sentado, olhando o relógio da torre da estação pela porta lateral entreaberta. É um lugar bem razoável – não tem muita mulher pra chatear, apenas um punhado de comedores de mandioca e jogadores de pingue-pongue, que não se metiam comigo. Passavam a maior parte do tempo sentados, assistindo um jogo idiota qualquer pela televisão. Claro que no quarto da gente é melhor, mas anos e anos de bebedeira já demonstraram que o culto da birita sozina, tomada entre quatro paredes, não só liquida com qualquer um como também ajuda ELES a liquidar com a gente. Não há necessidade de propiciar vitórias fáceis. Saber o ponto de equilíbrio exato entre a solidão e a aglomeração aí é que estava o truque, o golpe que a gente precisava usar para não ser internado no hospício.” (Charles Bukowski, do texto "Uma Xota Branca")

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

CARNE GUAIBEIRA

Pica duas cebolas pequenas (ou uma média) e um dente grandão de alho. Toca ¾ da cebola e metade do alho na panela, com fogo médio, no óleo temperado (fiz um há cerca de ano com um monte de condimentos, os quais agora não recordo precisamente p’ra te detalhar). No que pegar uma cor, acrescenta 500g de carne moída e um torete de lingüiça. E da-lhe fritura nas carnes, sempre mexendo p’ra coisa ficar uniforme. Quando perder o vermelho, acrescenta tomates cortados. Corta um, toca na panela, mexe; corta outro, toca na panela, mexe; e repete a função com o último (coloca todos com casca, só retirando aquela tampa preta da fruta – e muito cuidado p’ra não se cortar nessa hora abobado). Depois do terceiro terceiro tomate, corta uma ou duas malegueñas, em natura, e acrescenta junto com sal ou tempero pronto. Debulha duas espigas de milho e une ao entrevero. Mexe bem. Deixa cozinhar por 5 minutos em fogo médio e panela semi tampada.
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Enquanto inicia o preparo do arroz, dourando cebola e alho que restaram, desloca a panela da carne para fogo mínimo. Frita bastante o arroz em óleo abundante (o suficiente para untar todos os grãos). Acrescenta água fervente. Troca as panelas de fogo, regressando a carne ao fogo médio e apresentando o arroz ao fogo mínimo. Tempera a carne a gosto (recomendo manjericão e adobo). Corta duas “guampa” de cebolinha e atira um pouco em cada panela. Tampa as duas por completo e deixa o fogo trabalhar por cerca de 10 minutos (ou um pouco de prosa e duas a três cuias de mate p’ra ti e para a prenda – mexendo a cada duas cuias). E era isso vivente! Degusta com aquele pão amigo para domar o rango no garfo e aproveitar bem o caldo.

Fundamental: não coloca molho/massa de tomate de pacote porque tira o gosto natural da comida.
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Som do rango: IPANEMA FM, programa “Rock’n’Geral” (com destaque para Ramones – “What wonderfull world”, Jimmy Hendrix – “Are you experienced”, Eric Clapton – “Sunshine of your Love”, Police – “Spirits in the Material World” e Stones – “Under my Thumb”)

Lunes con mate


O calor insuportável se foi, ao menos por uma noite e uma manhã. Volto ao salutar hábito de matear ouvindo as notícias do final de semana. Basicamente esporte, mas com algumas reflexões do noticiário. O preço da gasolina nas bombas subiu, em que pese o governo tenha reduzido os impostos. É a ganância nossa de cada dia. Capão da Canoa ficou debaixo d’água após pancada de chuva de não mais de uma hora. Ah!, o litoral gaúcho no verão, essa maravilha nossa de cada ano. E dá-lhe IPTU nos veranistas! Mudanças na área de gestão no trânsito de Porto Alegre; elogios ao Secretário que se retira que tem pós-graduação em Londres ou sei lá aonde na área do trânsito. Grandes feitos mencionados: abertura de vias na área do centro e campanha da faixa de trânsito. Por favor, os feitos revelam fracasso total. Nenhuma via construída ou ampliada. A periferia totalmente abandonada. Movimentar cavaletes e comprar tinta para pintar faixa de segurança, é isso que esperamos de um secretário de trânsito ? E no esporte ? Bem, o Colorado treinou contra o Avenida e tudo espetacular no mundo maravilhoso da azenha.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Caros generais, almirantes e brigadeiros

Por MARCELO RUBENS PAIVA

Eu ia dizer "caros milicos". Não sei se é um termo ofensivo. Estigmatizado é. Preciso enumerar as razões?

Parte da sociedade civil quer rever a Lei da Anistia. Sugeriram a Comissão da Verdade, no desastroso Programa Nacional de Direitos Humanos, que Lula assinou sem ler. Vocês ameaçaram abandonar o governo, caso fosse aprovado.

Na Argentina, Espanha, Portugal, Chile, a anistia a militares envolvidos em crimes contra a humanidade foi revista. Há interesse para uma democracia em purificar o passado.

Aqui, teimam em não abrir mão do perdão. E têm aliados fortes, como o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que apesar de civil apareceu num patético uniforme de combate na volta do Haiti. Parecia um clown.

Vocês pertencem a uma nova geração de generais, almirantes, tenentes-brigadeiros. Eram jovens durante a ditadura. Devem ter navegado na contracultura, dançado Raul Seixas, tropicalistas. Usaram cabelos compridos, jeans desbotados? Namoraram ouvindo bossa nova? Assistiram aos filmes do Cinema Novo?

Sabemos que quem mais sofreu repressão depois do Golpe de 64 foram justamente os militares. Muitos foram presos e cassados. Havia até uma organização guerrilheira, a VPR, composta só por militares contra o regime.

Por que abrigar torturadores? Por que não colocá-los num banco de réus, um Tribunal de Nuremberg? Por que não limpar a fama da corporação?

Não se comparem a eles. Não devem nada a eles, que sujaram o nome das Forças Armadas. Vocês devem seguir uma tradição que nos honra, garantiu a República, o fim da ditadura de Getúlio, depois de combater os nazistas, e que hoje lidera a campanha no Haiti.

Sei que nossa relação, que começou quando eu tinha 5 anos, foi contaminada por abusos e absurdos. Culpa da polarização ideológica da época.

Seus antecessores cassaram o meu pai, deputado federal de 34 anos, no Golpe de 64, logo no primeiro Ato Institucional. Pois ele era relator de uma CPI que investigava o dinheiro da CIA para a preparação do golpe, interrogou militares, mostrou cheques depositados em contas para financiar a campanha anticomunista. Sabiam que meu pai nem era comunista?

Ele tentou fugir de Brasília, quando cercaram a cidade. Entrou num teco-teco, decolou, mas ameaçaram derrubar o avião. Ele pousou, saltou do avião ainda em movimento e correu pelo cerrado, sob balas.

Pulou o muro da embaixada da Iugoslávia e lá ficou, meses, até receber o salvo-conduto e se exilar. Passei meu aniversário de 5 anos nessa embaixada. Festão. Achávamos que a ditadura não ia durar. Que ironia...

Da Europa, meu pai enviou uma emocionante carta aos filhos, explicando o que tinha acontecido. Chamava alguns de vocês de "gorilas". Ri muito quando a recebi.

Ainda era 1964, a família imaginava que fosse preciso partir para o exílio e se juntar na França, quando ele entrou clandestinamente no Brasil.

Num voo para o Uruguai, que fazia escala no Rio, pediu para comprar cigarros e cruzou portas, até cair na rua, pegar um táxi e aparecer de surpresa em casa. Naquela época, o controle de passageiros era amador.

Mas veio a luta armada, os primeiros sequestros, e atuavam justamente os filhos dos amigos e seus eleitores - ele foi eleito deputado em 1962 pelos estudantes.

A barra pesou com o AI-5, a repressão caiu matando, e muitos vinham pedir abrigo, grana para fugir. Ele conhecia rotas de fuga. Tinha um aviãozinho. Fernando Gasparian, o melhor amigo dele, sabia que ambos estavam sendo seguidos e fugiu para a Inglaterra. Alertou o meu pai, que continuou no País.

Em 20 de janeiro de 1971, feriado, deu praia. Alguns de vocês invadiram a nossa casa de manhã, apontaram metralhadoras. Depois, se acalmaram. Ficamos com eles 24 horas. Até jogamos baralho. Não pareciam assustadores. Não tive medo. Eram tensos, mas brasileiros normais.

Levaram o meu pai, minha mãe e minha irmã Eliana, de 14 anos. Ele foi torturado e morto na dependência de vocês. A minha mãe ficou presa por 13 dias, e minha irmã, um dia.

Sumiram com o corpo dele, inventaram uma farsa (a de que ele tinha fugido) e não se falou mais no assunto.

Quando, aos 17 anos, fui me alistar na sede do 2º Exército, vivi a humilhação de todos os moleques: nos obrigaram a ficar nus e a correr pelo campo. Era inverno.

Na ficha, eu deveria preencher se o pai era vivo ou morto. Na época, varão de família era dispensado. Não havia espaço para "desaparecido". Deixei em branco.

Levei uma dura do oficial. Não resisti: "Vocês devem saber melhor do que eu se está vivo." Silêncio na sala. Foram consultar um superior. Voltaram sem graça, carimbaram a minha ficha, "dispensado", e saí de lá com a alma lavada.

Então, só em 1996, depois de um decreto-lei do Fernando Henrique, amigo de pôquer do meu pai, o Governo Brasileiro assumiu a responsabilidade sobre os desaparecidos e nos entregou um atestado de óbito.

Até hoje não sabemos o que aconteceu, onde o enterraram e por quê? Meu pai era contra a luta armada. Sabemos que antes de começarem a sessão de tortura, o brigadeiro Burnier lhe disse: "Enfim, deputadozinho, vamos tirar nossas diferenças."

Isso tudo já faz quase 40 anos. A Lei da Anistia, aprovada ainda durante a ditadura, com um Congresso engessado pelo Pacote de Abril, senadores biônicos, não eleitos pelo povo, garante o perdão aos colegas de vocês que participaram da tortura.

Qual o sentido de ter torturadores entre seus pares? Livrem-se deles. Coragem.

*Publicado em "O Estado de S.Paulo" de 30 de janeiro de 2010.

pensando... pensando...

"Sólo escribo porque escribir me ayuda a pensar" (Macedonio Fernandez)

Giramundo...

incrível o quanto crescemos... e o quanto todos mudaram, para onda mudaram e para quem mudaram... cabelos longos e novas amizades, crianças de outrora que agora necessitam trabalhar para prover o sustento dos seus... 1982... 1992... 1996/97/98... 2000s... 2002 para 2003, o tempo poderia ter parado ali(?!)... 2006/07/08... agora o 2009 e o 2010... aonde estão todos aqueles personagens ? perdidos e achados... todos mudaram de fato! alguns para melhor... muito melhor, belas curvas e sorrisos outrora despercebidas... desejos, novos, em meio a papos velhos e superados, desnecessárias confissões... todos mudaram, mesmo esses que tão pouco conheço...

LA RAMBLA

"Montevideo es un lugar especial para vivir al resguardo de las visitas. Acá las noches no son enemigas de mis miedos a los desembarcos. Mi pequeña muralla, con figuras art decó en hierro, se siente como un buen resguardo. Aquí la distancia con mi familia es tangible. Es imposible que me tomen por sorpresa. Quien quiera venir tiene que anunciarse o lo veré llegar y saldré corriendo. Estoy harta de vivir en plena fuga como si fuera una adolescente.

Rambla - Imagem minha autoria

La bruma del río comienza a mojarme la piel. Quisiera evitarla. Tendré que entrar y cerrar la ventana, pero antes doy una mirada a la bahía de Pocitos. Disfruto con las pequeñas olas que llegan a la costa. En la rambla, sentados en un banco, una pareja se besa en forma lenta y profunda. Sus figuras recortadas por la neblina con sus oscuros cuerpos bajo una luz de farol son una cálida imagen. Me recuerdan el afiche de Manhattan." (Alfredo Fonticelli - "Caireles")